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‘A musica me salvou, salvou minha vida inteira’: AQNO lança primeiro álbum ‘O Retorno de Saturno’

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De Marabá, sudeste do Pará, com intercâmbio no Maranhão e de peito aberto para o mundo, AQNO lança para o universo seu primeiro álbum “O Retorno de Saturno”. Gay, que vive com o HIV há seis anos, o artista se agarra a suas descobertas, processos e questionamentos ao desengavetar onze composições próprias, sendo dez delas inéditas, feitas na última década e que constroem este disco que revisita, costura e ressignifica suas diversas vivências e experiências. Com referências no brega paraense, reggae do Maranhão e pop universal com toques de ritmos latino-americanos, o compilado tem produção musical de Sandoval Filho.

Com faixas que dialogam entre si e representam esse caminhar do artista dentro de si para poder ser para o mundo, ele trabalha também a partir da semiótica do planeta de saturno e da cigarra como principais símbolos referenciais para a construção de sua obra. “Esse é um álbum que fala como eu me resolvi em várias questões na última década. O “Retorno de Saturno” é sobre respeitar os nossos processos, nosso tempo para resolvermos os conflitos internos, mesmo que seja lento”, comenta o artista. “É sobre respeitar o processo de amadurecimento e aproveitar os aprendizados dessa longa jornada que está só começando. Saturno leva cerca de 30 anos para dar uma volta inteira ao redor do sol e a cigarra vive aproximadamente 17 anos embaixo da terra, se alimentando da seiva das árvores, até emergir, romper a carapaça e  soltar seu canto reprodutivo. E esse sou eu: AQNO, um homem gay, que aos 33 anos, sendo seis deles com HIV, reconfiguro meu modus operandi afetivo, me resolvi em processos lentos, subterrâneos, solitários e agora me sinto pronto para romper e soltar meu canto”, reflete.

Mesmo criadas ao longo de dez anos, as onze faixas se interligam para contar o processo do artista dentro de relações vividas, como uma colcha de retalhos afetiva. “Na maioria das vezes eu me sabotava nesse processo de me entender vivendo com o HIV e fazendo essas trocas. Havia muita carência, medo de ficar sozinho, ser julgado. Culpa, raiva. Mas chegou também a hora de ter esperança, vontade de amar, me jogar nos afetos com leveza e liberdade”.

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Para a criação do álbum, AQNO passou por um processo intenso de imersão na produção musical ao lado de Sandoval Filho. Foram 7 meses morando em São Luís do Maranhão para acompanhar de perto e se apropriar de sua obra que tem como carro chefe o “Breggae” do single Desaglomerô – a mistura do brega do Pará com o reggae do Maranhão, lançado em agosto, preparando o caminho para o álbum. “Essa vivência local, esse intercâmbio, impulsionou ainda mais essa troca entre nós dois, que foi extremamente fluida. Eu e Sandoval nos demos muito bem musicalmente. O fluxo foi muito intenso, leve e produtivo. É muito desafiador o produtor entrar no seu mundo,  na sua cabeça, visualizar o que está ali e criar em cima do que ele interpretou. E esse foi o ponto chave: ele teve muita liberdade e autonomia”, explica o artista.

Natural de Gurupi – TO, Diego Aquino, o AQNO, vive em Marabá – PA há 17 anos. Sua relação com a música começou desde cedo, mas está na cena local desde 2013, quando passou a participar de festivais paraenses de música autoral. Sua maior inspiração para compor é Lenine: “sempre fui fã de sua musicalidade e a forma como canta e escreve”, explica. Também instrumentista com teclado e violão, tem como principais referências Elis Regina, Clara Nunes, Maria Bethânia, Ângela Ro Ro, Ney Matogrosso e intérpretes clássicos da MPB que levam carga dramática em suas canções. Reforça também a importância do movimento tropicalista com Caetano, Gil e os Novos Baianos, artistas paraenses como Fafá de Belém, Wanderley Andrade, Companhia do Calypso, Banda Fruto Sensual e artistas internacionais como A-ha, Queen e Michael Jackson para sua trajetória.

Ouça o novo álbum:

Confira a entrevista com o AQNO na íntegra:

1- Conta pra gente como foi à produção do novo álbum? E o nome “O Retorno de Saturno”, como surgiu?

R: Pra essa produção eu fiquei numa imersão de produção em São Luiz do Maranhão durante 7 meses produzindo com Sandoval Filho, produtor desse disco. Eu moro no sudeste do Pará, em Marabá, região conectada ao Maranhão. Fiz esse  contato com Sandoval, ele foi super generoso, se conectou ao disco, se conectou musicalmente com as mensagens . Foi um processo maravilhoso de conhecer a região que eu moro, dentro do Maranhão e de conhecer o Maranhão dentro da região que eu moro. Então esse intercambio cultural ficou muito evidente nesse processo de produção e a gente trouxe isso  pra o disco também, a mistura do reggae do Maranhão com o brega do Pará. Foi um processo muito fluído.

O nome “O Retorno de Saturno” veio a partir de uma inquietação minha com o nome do álbum, repertório do álbum, qual seria. Meio que caiu de para quedas, não imaginava que iria gravar um disco, meu primeiro disco em 2021, em plena pandemia. É um disco divertido de certa forma, mas algumas historias são bem caóticas e difíceis, foram bem dolorosas de viver e escrever. Então eu decidi que queria trazer essas camadas dolorosas, de como eu me resolvi dentro dessas canções e resolvendo os conflitos dessas canções. Esse nome veio um dia de madrugada, quando olhe pra tela do computador e fui selecionando essas musicas que falam sobre as minhas dores .

2- Sabemos que todas as faixas são composições próprias. Quais foram suas inspirações para compor cada uma dela?

R: Costumo dizer que esse disco é meio Frida Kahlo, totalmente autobiográfico, é como eu me resolvi dentro dessas canções, como Frida fazia, ela se pintava. Um processo que até pode parecer egocêntrico, falar de si. As inspirações são essas historias que vivi, esses amores, desamores, esses conflitos, principalmente quando eu me reconfigurava como homem vivendo com HIV. E essa foi uma questão muito latente, você não se sente mais apto para o afeto, o desejo, no começo, então é muito difícil você configurar tudo isso. Então no meio disso tudo eu tava tentando reconfigurar esse modo operante de trocar afeto, trocar desejo, então foram processos muito difíceis de auto boicote, relações abusivas, eu sendo abusivo comigo mesmo, nessas questões, meu processo para compreender tudo isso. Então as inspirações são as minhas historias, um disco sobre mim e assim como as obras de Frida Kahlo, espero que traga reflexão nas historias.

3- “O Retorno de Saturno” é o seu primeiro álbum, quais as expectativas?

R: Meu primeiro álbum depois de 10 anos acumulando historias. Eu chego com o “Retorno de Saturno” e as expectativas são as melhores e mais honestas para um artista independente. A gente está fazendo um trabalho lindo e super eficiente. Eu acredito muito nesse disco, na musicalidade, na originalidade. Toda essa identidade emocional contida no Retorno de Saturno pode encontrar muita gente. É um disco que pode trazer vários atravessamentos positivos pra galera se resolver nas suas questões.

4- As faixas são um mergulho no seu processo de amadurecimento, o que pretende levar para as pessoas que ouvirem?

R: Esse disco é sobre honestidade e sobre ser honesto consigo mesmo. É sobre se olhar no espelho e falar “sim eu sou essa figura caótica mesmo, tenho esses problemas aqui e o que posso fazer para resolve-los?”. É um disco para não ter medo de se olhar no espelho, para os seus conflitos. No processo de escolher o repertorio para esse disco eu tive muito isso. A principio eu queria trazer um disco mais etéreo, que tivesse letras mais românticas. Eu queria trazer esse lado caótico, essa honestidade, trazer a gente cru, nu e eu espero que as pessoas se vejam nessa forma.

5- As canções foram compostas dentro de um período de 10 anos, certo? Esse era o seu objetivo para a criação do álbum, contar sua vida e relações vividas?

R: Não posso dizer que seja um objetivo, eu sou um compositor muito situacional. Eu vivo situações, elas me afetam, eu vou resolver essas situações escrevendo e musicalizando. Então eu pego papel, caneta e violão e vou refletir sobre as minhas questões. Como falei de Frida Kahlo, não tinha como essa obra ser de outro jeito, não ser sobre as minhas historias e minhas relações.

6- Alguma faixa foi composta nesse processo de pandemia e isolamento social?

R: Sim. “Desaglomerou” foi composta no começo da pandemia, onde eu tava muito afetado com tudo isso que estava acontecendo, crise politica, sanitária, pandemia, saúde de trocar afeto, medo de perder os seus, muita coisa. Eu entrei em um bloqueio criativo horroroso, não conseguia participar de live, fazer show em live e não conseguia compor, escrever sobre nada, eu estava realmente em pânico. E um dia com saudade de boy meu, eu estava no Pará e ele no Maranhão, a gente estava conversando e ele soltou alguma frase, que inclusive deve está na musica, aquilo me reacendeu, aí eu fui compor. Desaglomerou é sobre isso, sobre saudade, estar longe de quem a gente ama, sobre a esperança de voltar a trocar afeto com a pessoa que a gente ama e isso vai além do contexto da pandemia.

7- O álbum foi lançado no dia 27 de outubro, então até o final do ano teremos mais novidades?

R: O cenário para o artista independente ele não dá muita objetividade sobre novidades, até por que esse projeto caiu de paraquedas na minha vida, nunca imaginava que ia gravar um disco em 2021, no meio de uma pandemia. E conseguir aprovar esse projeto na Lei Aldir Blanc do nada. Então é um projeto robusto, com valor e a gente espera que ele se espalhe, a gente espera competir os espaços para tocar o projeto, pra mostrar em festivais, shows, então espero sim. A gente já tem roteiro para o próximo videoclipe, já tem ideias, então não sei se até o final de 2021 a gente consegue colocar isso em pratica, mas a gente já está mirando na produção dos shows principalmente. A gente faz nosso primeiro show do disco em um festival muito importante daqui do Pará que é o Psica Festival, nos dias 17 e 18 de dezembro. Então isso já é um grande passo pra gente começar a levar O Retorno de Saturno pra os espaços que as pessoas possam acessar.

8- Indo para o lado pessoal, o que a musica significa para você e para sua vida?

R: A musica me salvou, salvou minha vida inteira. Eu me emociono até, falando sobre isso, por que musica está desde sempre na minha vida e não só de uma forma, por que tudo é musical, mas de uma forma muito magica, desde muito pequeno. É engraçado que minha família não é uma família de músicos, não é uma família de artistas, mas de alguma forma meus pais sempre trouxeram arte pra gente consumir. Então desde pequeno meus brinquedos são musicais, então a magica da musica está na minha vida desde sempre e a musica me salvou e tem me salvado esse tempo inteiro, nesses 33 anos, em varias situações da minha vida. Musica pra mim, agora com esse projeto se potencializa ainda mais porque é a oportunidade de trazer essa magia que tanto me afeta, que tanto me atravessa, pra tantas pessoas.

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Written By

Jucilene, pernambucana, nascida em Recife. Formada em Produção Publicitária. Apaixonada por musica, filmes, séries e redes sociais.

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