Brasil
Z Festival recebe Camila Cabello e Rouge e se consagra entre os festivais brasileiros
*Por Juliana Del Rosso.
Edição: Daniel Outlander.
A sexta edição do Z Festival foi realizada no último domingo, 14, em São Paulo, no Allianz Parque, também conhecido como Arena Palmeiras ou Arena Palestra Itália.
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O Z, criado especialmente para atender às necessidades de um público mais jovem, conquistou um público de cerca de 120 mil pessoas em suas edições anteriores. Este ano, mais de 15 mil pessoas lotaram o estádio, que novamente recebeu o evento, que também aconteceu em Porto Alegre, Curitiba e Uberlândia, em Minas Gerais.
Falemos então sobre a nossa experiência aqui em São Paulo. O festival começou tímido, com as arquibancadas um pouco esvaziadas e um gramado ainda bastante verde. Quando o Make U Sweat entrou para tocar, por volta das 15h30, o público ainda estava começando a aquecer.
A música dos DJs foi divertida; misturando clássicos e músicas mais atuais, o grupo conseguiu a atenção dos presentes e recebeu aplausos, uivos e gritos. Uns e outros arriscaram alguns passos de dança, mas estavam todos um pouco desconectados ainda do “ritmo” do evento. Normal para um domingo à tarde, sem sombra de dúvidas.
A animação aumentou consideravelmente quando o MC WM, aquele do “Qual bumbum mais bate” e do “Favelado que te ama”, deu o ar da graça. Simpático e carismático, o funkeiro agradeceu aos organizadores, às pessoas que começaram a requebrar quando ele pediu e às oportunidades da vida.
Para fazer bonito, pediu o tempo inteiro: cantem comigo; dancem e façam bagunça. Aproveitem o dia e o momento, abracem os amigos, riam muito. Para demonstrar apreço pela plateia, simplesmente voou do palco para o meio da multidão e roubou um cartaz de um grupo de meninas. No papel cortado, o recado: “Só vim pelo WM”.
Uma grande alegria para ele, que foi pobre a sua vida inteira – palavras dele mesmo – e só esperava um dia poder tocar em um baile funk. Anos depois, em um festival numa área nobre de São Paulo, foi aplaudido e celebrado.
Vitor Kley
A festa seguiu com o show de Vitor Kley, moço faceiro e com pegada de surfista. Com um violão e um sorriso, cantou duas vezes a sua música de maior destaque, “O Sol” – aquela mesma, que diz: “quando você sai, o mundo se distrai, quem ficar, ficou; quem foi, vai, vai, vai”.
Com um grande apelo com o público feminino, Kley declarou seu amor pelas morenas, pedindo desculpas “para as loiras e as ruivas” e cantarolou os versos de “Morena”, canção levemente sensual, originalmente cantada com Bruno Martini.
KVSH
Saiu então de foco para dar lugar ao DJ KVSH, que foi responsável por mais uma leva de músicas animadas, mantendo a energia do lugar em alta. Com o passar das horas, é normal que as pessoas cansem. As batidas mais fortes, neste contexto, ajudaram bastante a manter o pique coletivo (e favoreceram as apresentações que vieram depois, muito mais hypadas).
Zeeba
Já no comecinho da noite, quem deu o ar da graça foi Zeeba. O músico, pequeno, de oclinhos e cara de menino, apresentou-se como filho de brasileiros (o que surpreendeu a algumas pessoas), disse amar São Paulo e já puxou o coro de sua música mais conhecida, “Hear me now”. A canção, aliás, foi tocada também no final do show, uma vez que foi bem recebida.
Com Zeeba, as apresentações do Z Festival começaram a ficar um pouco mais refinadas. O rapaz trouxe consigo um bom aparato, com vídeos e frases instigantes – como “de todos os lugares do mundo, você está aqui e agora”, que puxou o seu hit “Live in the moment” -, além de investir em mais luzes coloridas, fumaça e afins.
Uma coisa interessante sobre o moço, que na verdade se chama Marcos (!), é a seguinte: talvez por trafegar muito entre os Estados Unidos e o Brasil, o cantor confunde um pouco os idiomas. Em alguns momentos, pedia “façam barulho!”; em outros, gritava “put your hands up and make some noise!”. Não pareceu um estrangeirismo gratuito, mas uma genuína “troca de frequência”.
Rouge
Cerca de vinte minutos depois, uma gritaria imensa toma conta do Allianz Parque: o Rouge, grupo feminino de muito destaque no início dos anos 2000 e que recentemente voltou com tudo, inicia a sua apresentação com um vídeo simples, mas poderoso.
Na tela, mensagens sobre a importância de entender que é necessário vencer o preconceito, investir em um posicionamento mais empático e pensar sobre o futuro que se deseja dar às outras pessoas. Das arquibancadas, ouve-se um sonoro “ele não”. As moças não se posicionaram diretamente, é verdade, mas em tempos de discursos inflamados, é bom saber que há quem entenda a sua vivência artística e musical também como um campo de batalha.
Entram Aline, Fantine, Karin Hils, Li e Lu, lindas em suas roupas prateadas e sensuais. O tempo não passou para quem, com seus quase trinta anos – como essa que vos fala -, começa a entoar “não dá pra resistir ao teu amor; você me olha assim, baby, eu vou”.
Em determinado momento, dois dançarinos simulam uma relação no palco. As meninas os observam, narrando aquele romance à distância. Novamente, não houve uma posição falada: as entrelinhas da performance, carregadas de sensualidade e medo (sim!), disseram o bastante.
A girl band encerrou o seu tempo com “Um anjo veio me falar”, clássico dos karaokês de São Paulo. A casa, nesta hora, já estava quase que inteiramente lotada. Das arquibancadas, centenas de pessoas levantaram bastões coloridos e celulares, criando uma atmosfera de magia e acolhimento. O telão revelou, numa situação de comunhão entre plateia e artistas, lágrimas nos olhos do Rouge. Nada como voltar à ativa em grande estilo e recepcionadas por um coro desafinado, mas cheio de boas intenções.
Camila Cabello
Finalmente ela, a grande estrela da noite, estava para chegar. Camila Cabello, ex-Fifth Harmony e sucesso mundial, conseguiu lotar um estádio inteiro, em pleno domingo, em uma crise econômica daquelas. Impressionante, especialmente quando levamos em consideração que ela tem apenas vinte e um anos.
Estar no show business não é um coisa fácil; é muita pressão, exposição e cansaço. Cabello não parece afetada por nenhuma destas coisas. Quando surge, está sorridente e satisfeita. Seus olhos grandes, impressos em um telão trinta vezes maior do que ela, não são capazes de eclipsá-la. Sim, pessoal, ela é mesmo muito carismática. Sim, ela não tem nem um metro e sessenta de altura, mas fica gigante quando está com um microfone na mão.
Como quem tem anos de carreira, a artista fala com desenvoltura, brinca, faz piada. Arrisca falar português inúmeras vezes (e vai muito bem nisso, diga-se de passagem). Declara-se meio brasileira, chama as fãs de gostosas e, para fechar a série de galanteios, canta uma versão de “Can’t help falling in love” onde declara que não consegue evitar de se apaixonar pelo Brasil.
O show vai para um nível surreal quando, do nada, Anitta “invade” o espetáculo. A Poderosa, que havia se apresentado no Rio de Janeiro na mesma tarde, dividiu as atenções ao cantar “Paradinha” e, então, “Real Friends”.
A partir daí, o tom mudou. Para cantar suas outras composições, Camila assume uma postura quase maternal, doce mesmo. Pede para que as pessoas se aceitem como são, que escolham o amor acima de qualquer coisa e que se apoiem. Reforço do que havia sido dito pelo Rouge um pouco antes, é verdade, mas o recado é sempre importante.
Como não poderia deixar de ser, “Havana” foi escolhida para finalizar o Z Festival. Diante de um coro eufórico, Camila teve bastante dificuldade de ser ouvida. Tentou, ainda assim, aumentar a voz e, acredito eu, quase chegou a gritar. Não que isso tenha incomodado ninguém ou mesmo aborrecido a popstar, que parecia estar flutuando ao deixar a festa.