Quem nunca sonhou com um mundo melhor? Qual criança, que se vê em um mundo povoado por reinos encantados da Disney, não pensou em ser princesa (ou príncipe!)? E por que perdemos a beleza da essência da vida quando trabalho, correria e falta de tempo se tornam o nosso dia a dia? Vanessa Balula é mais! Jornalista, roteirista, escritora, são muitos os rótulos para descrever a profissional por trás de “Marina nada morena“. Eu digo mãe, sensitiva e amorosa como algumas das três virtudes que posso destacar em apenas 60 minutos de longa e incipiente conversa.
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Dona de ideias mirabolantes e criadora de um universo usual, Vanessa é mais que a escritora de “Marina nada morena“. A história, que ficou engavetada por longos 13 anos, ganhou voz, face, e os palcos: estrelada por Mel Maia e Cauê Campos, dirigida por Ernesto Piccolo, produzida por Kananda Raia e adaptada por Balula, o livro saiu do papel de virou peça, sucesso de público no Rio e que, em breve, ganhará turnês em outros estados. É esse sucesso que ela busca?
Mãe de Dora, uma menina de três anos, casada, Vanessa deixa seu legado em palavras e na forma em que vive. Carioca, estudou em uma das melhores instituições de ensino de Nova York, trabalhou na Globo e fez tudo o que a carreira lhe permitiu. Sua felicidade, no entanto, só veio com uma companheira de vida e a chegada de sua filha.
Em um país onde cerca de 70% da população nunca comprou um livro, Vanessa ousou.
“Esta questão toda que a gente vive no Brasil em relação à cultura vem de muito tempo. A gente vem perdendo espaços de cultura e voz há muito tempo! Eu acredito, apoio e aposto, que é um exercício diário, esta questão de a gente apresentar novas formas de posicionamento, novas formas de apresentar o mundo, principalmente para as crianças, faz muita diferença. Pra todo mundo! Eu trabalho com literatura há muito tempo e isso me faz acreditar que a gente tem que continuar contando histórias, e colocando o que a gente vive nessas histórias, para que a gente consiga alcançar um número maior de pessoas”- Vanessa Balula.
Mas nem só de história o mundo se constrói. Para Vanessa, seu cotidiano e suas lembranças da infância, foram grandes apoiadoras da confecção letra por letra de seu livro.
“A história da Marina foi inscrita, na verdade, há 13 anos, e ficou guardada durante todo esse tempo. Pensando sempre “Ah, mas parece que falta alguma coisa”. Mexe aqui, mexe ali, e aí eu recebi um convite da Kananda Raia, que é produtora da peça, que é responsável por convidar, não só por pedir o texto para mim, mas convidar a Mel Maia e o Cauê Campos, por convidar o Ernesto Piccolo para dirigir, ela é dona da Oito Graus Produções e foi responsável por me pedir o texto. Como é gostoso a gente ter um livro, ter um filme, ter uma música lá de trás e que a gente traz junto.” – Vanessa Balula.
Eis que 13 anos depois de se colocar dia a dia, palavra por palavra e, como ela mesma diz, “mexer aqui e ali”, Marina ganhou vida, trazendo consigo seus medos, receios, realidades e toda uma vida que transpassa o papel e se deleita no imaginário. “Eu achei que ia demorar. Se demorasse mais cinco (anos), eu já achava muito”.
Ideias vindo e indo, adaptações aqui e ali, (risos), surge um co-protagonista negro no teatro, “num universo onde não vemos muito a presença do negro. E ele é filho de um executivo de uma multinacional. É tudo muito!”, descreve.
“O mais bacana de tudo é que, em nenhum momento, não tem qualquer alusão sobre diferença física ou de raça, porque isso não faz a menor diferença, e de fato não faz. Na história passa despercebido, mas o bacana é a gente perceber é que não tem relevância, mas está ali.” – Vanessa Balula.
Teatro
A peça estreou nos palcos no Rio de Janeiro. O debut foi completo: Vanessa, a escritora, assumiu toda a parte da adaptação. Cauê e Mel experientes nas telinhas, nunca haviam feito teatro. Maestria tamanha com a sabedoria de Ernesto Piccolo, diretor da peça, ao lado de toda equipe de produção e a experiente Kananda Raia “no comando”.
O sucesso já era de se esperar. Com a equipe empenhada e apenas dois meses para a estreia, o texto foi sendo adaptado in loco, ganhando sua expressão e forma.
“Foi muito rápido. ‘Então, é o Cauê e a Mel. Já chamei o Neco, Ernesto Piccolo, para dirigir’, que é um baita diretor, um diretor super sensível, também professor de teatro, além de tudo, cria do Tablado, onde eu também me formei, então foi uma sensação total de encontros e reencontros. E, de repente, a Kananda me diz: ‘olha, a peça vai estrear dia 2 de setembro!’. E eu vi que a coisa começou a acelerar.”- Vanessa Balula.
Sem patrocínio, garra, coragem e determinação foram cruciais para o nascimento de Marina, que não é nada morena, no teatro.
A peça, que estreou no Teatro das Artes, no Shopping da Gávea, percorreu outros palcos da cidade como o Teatro do Bangu Shopping.
Inspirações e interação
Para escrever o livro, não faltaram inspirações. A referência do título é quase autoexplicativa. Da música de Dorival Caymmi, eternizada também na voz de Gilberto Gil, “Morena“, que fala de uma “Marina morena”, surgiu a descrição antagônica. Ela não é morena! Mas é ruiva, loira…?
“Ela não é ruiva. Uma cor meio de jujuba, meio de xarope, mas não ruiva.”- Vanessa Balula.
Do sucesso “All Star“, de Nando Reis e Cássia Eller, surgiu o modelo do calçado e a cor usado na protagonista. Referência pouca, não?
“Uma coisa bacana é que as crianças, no espetáculo, interagem muito. Às vezes a gente para só para ouvir. E tanto a Mel quanto o Cauê pegaram isso, foi um desafio ainda maior. É diferente do teatro adulto, onde quem gosta, gosta. Quem não gosta, não gosta. Aplaude se gostar. A gente está falando de criança! É um barato.”- Vanessa Balula.
Atores mirins contam a história de “Marina nada morena”, no lançamento do livro
Leitura + iniciativa inédita
No próximo dia 25 de novembro, a Livraria Argumento, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, receberá um lançamento para lá de especial. Atores mirins, alguns premiados e com vasta experiência na TV, irão contar para o público a história Marina nada morena, primeira obra literária da autora Vanessa Balula, lançado pela Bolacha Maria Editora.
É a primeira vez que um grupo de atores crianças faz uma contação de história em uma livraria. A ideia da iniciativa surgiu entre uma conversa de Júlia Vargas-Viegas, editora da Bolacha Maria com Silvia Pareja, cineasta, atriz, diretora de teatro, vídeo e uma das mais conceituadas preparadoras de elenco. Ao saber da sugestão, a autora não pensou duas vezes e topou na hora.
“A Bolacha Maria, que é a editora, sempre trabalha com títulos de livros que são lidos primeiro pelas crianças, e com facilitadores de leituras, para as crianças menores, e as crianças contam o que acham do livro e da história. E essa ‘brincadeira’ é muito legal, porque a gente já começa a ter a resposta das crianças sobre os livros. E são essas crianças que assinam as orelhas dos livros. Normalmente, sempre quem assina é alguém muito importante, mas não são as crianças, a quem está destinado esse livro. É muito legal!” – Vanessa Balula.
Marina serena, nada morena, com voz de cantar
“Marina” contagiou a todos. O que foi um sonho de Vanessa, se transformou no sonho de todos. Num simples contato via WhatsApp com a ilustradora Taline Schubach, que morava na Espanha – hoje, em Londres -, surgiram os traços que deram vida à personagem.
“Eu liguei pra ela e pedi desculpas. Disse que nunca havíamos trabalhado juntas, mas que eu queria muito. Falei que era um sonho meu, minha loucura” – Vanessa Balula.
O sonho foi se transformando. E nas mãos Reginaldo Barbosa, que assina a capa e o projeto gráfico, Marina foi tendo corpo, mãos e voz!
Sim, Marina ganhou letra, música, e tudo o que tinha direito. Cantada por Júlia Vargas-Viegas, Vanessa Balula, com voz, produção e violão e baixo de Bruno Mad, a canção-tema se tornou viva, cuja responsabilidade de gravação ficou por conta do Kiko Ferraz Studios.
Marina ainda quer mais! Quem sabe, no futuro, no cinema. Apesar de ser difícil trabalhar com produção audiovisual no Brasil, “Marina nada morena” foi constituída no trabalho em equipe, no acreditar dos envolvidos, todas as possibilidades são possíveis.
“Marina nada morena” está disponível para vendas no site da Livraria Argumento por R$ 48.
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