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Lançamentos da Semana

[SPOILERS] Assistimos o K-12 de Melanie Martinez!

Saiba tudo sobre o álbum visual que será lançado essa sexta (06/09) nas plataformas digitais!

Por Pedro Marinho

Depois de quatro anos de hiato, a cantora Melanie Martinez finalmente lançou a aguardada continuação de “Cry Baby”. “K-12” chega, portanto, coberto de expectativas, mas será que a espera valeu a pena? O PopNow foi até a Casa do Popline à convite da Warner para descobrir se o resultado está à altura.

E acreditem: Melanie supera seu disco de estreia nesse trabalho. Ainda que siga a história da protagonista a quem fomos apresentados nos vídeos anteriores, a forma de contar a história está muito mais forte, sobretudo devido à presença de diálogos costurando a trama. Ponto super positivo para Melanie, aliás, que estreia como roteirista e diretora. As questões técnicas, como edição e fotografia por exemplo, não deixam a desejar. Isto é – estamos em um patamar novo aqui.

A história parte mais ou menos de onde “Mad Hatter” nos deixou: Cry Baby prepara-se para o primeiro dia de aula. Ao longo do filme, acompanhamos sua trajetória do jardim de infância até o final do ensino médio – por isso o nome “K-12” (Kindergarten to 12th grade). Porém, como estamos assistindo em um bloco único, as transições mais fluidas tornam a história mais interessante que o trabalho anterior.

Cuidado! Spoilers adiante!

CRY BABY VAI À ESCOLA

A roda do ônibus roda, roda, roda, roda… Encontramos Cry Baby na primeira cena do filme, se preparando para o que chama de “primeiro dia no inferno” – um mundo onde as meninas vestem rosa e os meninos vestem azul. Acima de tudo, seu maior medo é que façam graça de seu diastema, chegando a ter pesadelos com isso. A primeira canção, “Wheels On The Bus”, aborda o sentimento de impotência da protagonista por saber que o motorista a vê sofrer bullying de seus colegas, porém nada faz.

Neste momento, descobrimos que algumas crianças têm superpoderes, incluindo Cry Baby e sua melhor amiga. Por outro lado, também descobrimos que as crianças estão divididas em grupos sociais bem definidos à lá Meninas Malvadas, o que promete complicar a vida da protagonista na K-12.

ESCOLA MAL-ASSOMBRADA – POR MORTOS E VIVOS

Uma das primeiras coisas que Cry Baby descobre ao chegar à instituição é o fato de fantasmas rondarem o lugar. No entanto, esse está longe de ser o maior problema da K-12. Na primeira aula da menina, cuja professora é viciada em cocaína, um dos alunos negros recusa-se a levantar durante o juramento de lealdade – uma clara alusão ao caso do jogador Colin Kaepernick. Consequentemente, o estudante é punido. Enquanto isso, Cry Baby está passando por maus bocados, devido ao ciúmes que uma das alunas possui das interações com seu “namoradinho”. As duas brigam no playground e são levadas à diretoria – essa é “Class Fight”.

“The Principal” é precedida por uma cena onde vemos a demissão de uma professora por estar realizando a transição de gênero pelo diretor da instituição, e critica a estrutura patriarcal do colégio com uma das primeiras grandes sequências de coreografia, em frente a um júri de homens brancos com perucas aristocráticas. O diretor infarta e é atendido por médicos cabeça de coelho – que remetem ao álbum anterior.

ANSIEDADE SOCIAL

Depois disso, Cry Baby retorna à sala de aula e é surpreendida pela apresentação de marionete da professora. A marionete, no caso, é ela mesma. A canção “Show & Tell” usa, portanto, a alegoria dessa apresentação frente à classe para criticar a forma que Melanie se sente tratada na vida real. Isso é visível em versos como “Estranhos tiram fotos minhas quando eu peço que parem” ou “Compra e venda, como se eu fosse um produto para a sociedade”. Por consequência, Cry Baby passa mal e é levada à enfermaria, onde um balé de enfermeiras faz uma das mais belas coreografias do filme em “Nurse’s Office”.

MACHISMO, SEXISMO E CULTURA DO ESTUPRO

Em uma das melhores críticas sociais do filme, temos a cena da aula de teatro. Quando o professor distribui os papéis a serem interpretados pelos alunos, Cry Baby percebe que se tratam de papéis sociais de gênero. Mas ao pedir por uma parte menos “domesticada”, a menina é ridicularizada por outros rapazes. “Drama Club” denuncia o sexismo com uma acidez que lembra “Alphabet Boy”, do disco anterior. No meio da peça, Cry Baby protesta contra a lavagem cerebral que a representação de estereótipos de gênero gera nos alunos. Sob comando dela, eles despertam do transe e atacam o diretor da K-12 – representante do sistema patriarcal e o despedaçam. Literalmente.

Logo depois, acompanhamos Cry Baby no vestiário. A canção “Strawberry Shortcake” fala sobre as inseguranças na aparência e como o ambiente escolar corrobora no aumento desses sentimentos. “Fui mandada para casa me trocar pela minha saia ser curta demais”. Levantando um debate sobre a culpabilização das mulheres quando vítimas do machismo, Cry Baby encontra-se nua com um bolo no lugar do corpo. Os colegas de classe meninos se aproximam, com um comportamento animalesco, e ela pede: “Ensine-o a manter aquilo dentro das calças e pare de dizer que a culpa é minha”. Em um momento de contato com uma entidade espiritual que a vem aconselhando ao longo do filme, Cry Baby desabafa, triste. A entidade responde: “No tempo divino, toda tempestade se transforma em um arco-íris.”

SORORIDADE

Quando a menina popular tenta levar Cry Baby a sentar-se com o grupo das “plásticas”, a garota se nega. Percebendo que a “amizade” das garotas é falsa e as meninas, na verdade, divertem-se fazendo graça dela, a protagonista opta por dividir a hora do lanche com suas amigas de verdade. No entanto, Cry Baby percebe que uma das “plásticas” tem superpoderes, como ela e suas amigas, e deseja agregá-la ao grupo. “Lunchbox Friends” termina então com uma guerra de comida, bem estilo filme americano de ensino médio.

Ao seguir a menina para fora da lanchonete, Cry Baby descobre que a menina com poderes está tendo suas inseguranças incentivadas pela “Regina George” do grupo, algo representado na canção “Orange Juice”. A plástica obriga sua seguidora a vomitar no banheiro. A protagonista ajuda a menina a encerrar seu ciclo de bulimia e relações tóxicas com o próprio corpo com um emocionante discurso positivo, substituindo os julgamentos da antagonista. “Todo mundo merece amor”. Assim, Cry Baby ganha uma nova amizade.

PODER E CONTROLE

Por ter causado a guerra de comida, Cry Baby é levada à detenção pelo filho do diretor, que assumiu o lugar do pai. Lá, os estudantes são amarrados e medicados, como forma de demonstração da dominação pretendida pela K-12 em relação às crianças. Em “Detention”, a menina é forçada a se apresentar em frente a outras crianças, tendo seus sentimentos ignorados. Finalmente, a protagonista incorpora o filho do diretor (estilo Bran Stark em Game of Thrones) e consegue escapar.

Na canção seguinte, vemos o professor de ciências flertar com a melhor amiga de Cry Baby, em uma tensa cena que alegoriza o abuso sexual no ambiente escolar. “Teacher’s Pet” só evita um final medonho pois, no último momento, a protagonista salva sua amiga e elas derrotam o professor.

ROMANCE DE ESCOLA

Um dos colegas já demonstra interesse em Cry Baby há algum tempo, porém é tímido e não o confessa. Em vez disso, Ben manda cartas de amor para a ela. A menina sonha com o admirador (ou admiradora) secreto, em “High School Sweethearts” uma surpreendente sequência solo de dança com Martinez. No entanto, o menino não consegue chamá-la para o aguardado baile da escola, pois outro rapaz o faz antes que ele tome coragem.

ÚNICO CLÍMAX POSSÍVEL: BAILE DA ESCOLA

Na maneira mais clichê possível em um filme colegial estadunidense, o clímax se desenrola no Baile da Escola. Cry Baby e suas amigas decidiram incendiar a K-12, mas as meninas se frustram ao ver que a protagonista decidiu ir ao baile acompanhada de um rapaz. Arrependida, ela vai chorar no banheiro e é consolada por uma fantasma do local.

Enquanto isso, no alto-falante, o diretor confessa ter descoberto o plano das garotas, tranca os alunos no salão e os obrigam a dançar por horas, ao som de “Recess”. Cry Baby, disfarçada, consegue invadir a sala do diretor e o tranca em um armário, em uma cena icônica: não por acaso, antes de fechar a porta, a menina enuncia: “Eu também” (em referência a movimento #MeToo).

A heroína liberta os alunos do salão e ganha o reforço de Ben, que assume sua identidade como autor das cartas românticas. Com os estudantes a salvo, os dois prendem a escola em uma bolha de cuspe, fugindo logo em seguida e explodindo a instituição. A sequência final parece que está prestes a concluir a escola, porém um gancho é colocado no último segundo, nos mostrando que ainda não é o momento de conhecermos o desfecho da história de Cry Baby.

OPINIÃO:

O trabalho de Melanie nesse álbum está bastante amadurecido em relação ao anterior. A proposta de usar alegorias infantis para tratar de temas sérios da juventude e vida adulta segue, sendo substituído por temas do universo escolar. Existe uma coesão conceitual muito grande na carreira da artista até agora, o que pode levantar dúvidas sobre até quando ela poderá sustentar isso. No entanto, “K-12” mostra sua criatividade e habilidade em criar e desenvolver um universo fantástico e, ao mesmo tempo, relacionável e realista.

As músicas em si não trazem grandes novidades. O estilo é o mesmo, inclusive parecido até demais em certos pontos. O verdadeiro destaque está nas letras que, assim como em “Cry Baby”, exploram uma infinidade de temas sociais importantes. Isso é ainda mais enriquecido pelo filme. Dos distúrbios alimentares até o patriarcado, passando por amizades tóxicas e transfobia, a artista traz um roteiro político e ousado.

A K-12 de Martinez é, afinal, uma superestrutura que serve para condicionar alunos a uma vida de insegurança, dominação, medo e abuso. A mensagem de protesto e revolta contra esse sistema é necessária e urgente. Os fãs de Melanie Martinez têm muito o que se orgulhar pela entrega de um material de alto nível, fazendo valer a longa espera.

“K-12” estará disponível a partir de sexta, 6 de setembro.
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