Músico, engenheiro de som, produtor musical, A&R e curador são apenas alguns dos possíveis títulos para definir Rafael Tudesco, o brasileiro de Porto Alegre que se mudou para Los Angeles e viajou o mundo inteiro fazendo música. No currículo, Rafa coleciona colaborações e participações no trabalho de artistas como Alice in Chains, Akon, Lil Wayne, Rita Ora e muitos outros.
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No primeiro estúdio em que trabalhou, em Los Angeles, nos EUA, Rafael viu se estruturar a Roc Nation, gravadora fundada pelo lendário rapper e empresário Jay-Z, responsável por lançar e gerenciar carreiras de artistas como Rihanna, J. Cole e Big Sean, processos e trabalhos que Rafa acompanhou bem de perto.
Tudesco assina também alguns trabalhos de artistas brasileiros, como o álbum “Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa“, do rapper Emicida, que rendeu ao produtor uma indicação ao Grammy Latino. O nome de Rafael aparece ainda em fichas técnicas de outros músicos, incluindo Malía, Ramonzin e muitos outros.
Desde sua mudança para Los Angeles, em 2006, Rafa se conectou a uma rede de imigrantes que, como ele, tinham raízes em países de terceiro mundo (3RDW – “third world). A partir dessas conexões, o artista identificou que algo na cultura e na sonoridade desses lugares se ligava de formas inimagináveis. Esse foi o ponto de partida para o desenvolvimento do trabalho autoral de Rafael Tudesco, que percebeu também que o mainstream se apropriava de traços dessa estética para criar grande parte das músicas que ocupam o topo das paradas, mas que os responsáveis por desenvolver essas sonoridades nunca alcançavam essas posições.
Rafa agora se prepara para lançar 3RDW, um projeto inovador que pretende mostrar ao mundo a música que vem sendo feita por artistas de terceiro mundo. Desde 2017 contratado pela Universal Music como produtor e A&R, Rafael pode se conectar ainda mais a novos artistas, tendo sido responsável pelo desenvolvimento da carreira de vários deles. Ao longo desse período, o projeto 3RDW ganhou corpo e agora o músico está pronto para apresentar ao mundo seu primeiro lançamento.
O primeiro single do projeto, “Ahue”, tem estreia prevista para o dia 13 de agosto. Sobre o nome da faixa, o artista Big, integrante do duo Dois Africanos, explica o significado da expressão em Mina, uma língua originária da África. “A aldeia, o interior são para nós o que as raízes são para as árvores. Você vê a árvore, ela está bonita, de pé e gigante como vemos, por causa das raízes. Então, para nós, algumas vezes sair da cidade grande e voltar para o interior, é uma maneira de ir se recarregar. Esse negócio é tão forte que em 2018, quando eu fui para o Benin, eu voltei para o Brasil e era outro resultado no meu trabalho. Era como se estivesse faltando algo, eu precisava me reconectar. Sobretudo, como a gente é muito da natureza, da crença de certas coisas, a raiz é muito forte para a gente. Para mim, a minha raiz é de onde vem o meu sangue. Ahue é o lugar ao qual você pertence”.
Tudesco expandiu sua conexão com a cultura africana quando trabalhou em um selo que se dedicava a lançar exclusivamente música tradicional do oeste africano. Por meio de uma parceria com a empresa KSK Records, Rafa foi até Mali, na África, onde trabalhou na produção do documentário “Music in Mali”. Enquanto estava lá, ele colaborou com artistas como Bassekou Kuyate, que foi vencedor do Grammy®, além de outros nomes lendários, incluindo Khaira Arby, Toumani Diabate, Sekou Maiga, Super Djata Band, Sibiri Samake e outros. Durante a viagem, o artista entrou em contato com uma explosão de sonoridades e experimentou um intercâmbio cultural com artistas de vários países do continente, como Zimbábue e África do Sul. Rafa percebeu o paralelo estético que havia entre o que estava sendo feito lá e o que acontecia simultaneamente no mercado da música brasileira.
“A gente está lançando esse primeiro trabalho que, para mim, foi muito importante. É uma conexão com amigos que eu gosto muito, com quem eu trabalho, pessoas do Brasil e de outros lugares. Essa primeira música vem para apresentar o começo dessa história, ela traz artistas que eu curto muito, como o Ramonzin, com quem eu já trabalho há um tempo, o Daniel Yorubá, outro artista que eu gosto muito e com quem trabalhei, e os dois artistas africanos, Big e Izzy, um do Benin e um do Togo, radicados aqui no Brasil. Acho que sintetizou bem essa conexão com África, de ser um imigrante e estar no Brasil. Eu tive vontade de fazer essa primeira música em algumas línguas diferentes e achei muito importante que fosse em algumas línguas locais dos países deles, como o Mina, uma língua do Togo, e o Fom, do Benin, junto com o português”, explica Rafa sobre a faixa de lançamento do projeto.
A música chega acompanhada de um clipe, dirigido por Mailson Soares (Cave Films). Sobre o vídeo, o artista conta: “Essa faixa conta um pouco sobre como a própria música te leva de volta pra casa. Tem uma história curiosa… O diretor do clipe, que é meu amigo há muito tempo e mora nos Estados Unidos, já não vinha ao Brasil há alguns anos. A filmagem desse clipe foi justamente uma volta pra casa dele. Foi muito legal porque a gente conseguiu fazer com que ele viesse pro Brasil e colocamos todos juntos (a família, os amigos…) pra fazer esse vídeo. Eu acho que ele representa um pouco dessa história”.
Assista ao clipe
Confira a entrevista exclusiva concedida ao Portal PopNow:
Como você compactou toda bagagem para colocar no projeto em que estão lançando hoje?
R: É um trabalho de vida. Acho que tentei sintetizar meus últimos 15 anos em um projeto. Eu venho dessa construção de viajar pra vários lugares, pegar um pouco das referencias, trabalhar com esses times e sempre tive essa coisa de botar minha assinatura, essa coisa brasileira e meio mundial. Essa galera que trabalhou comigo nessa musica são meus irmãos, é a galera que eu trabalho no dia a dia, que eu falo todo dia, são as pessoas que eu convivo. Então foi muito natural essa escolha por que a gente já tem trabalhos distintos juntos e essa musica em especifico, ela nasceu por que eu tinha sido convidado em 2012 pra ser segurador de um projeto que acontecei na Red Bull Station, em São Paulo. Eu tive a oportunidade de montar um time com mais ou menos 6 pessoas, pra gente fazer residência em um lugar e se juntar apenas para fazer musica. Então eu chamei as pessoas que estão nesta musica. Quando acabou o processo a gente tinha que montar meio que um show. As coisas ficaram tão legais que a gente decidiu que essa seria a primeira musica do projeto.
Porque trazer esse trabalho e ser gravado em uma comunidade em São Paulo? Qual foi a ideia de trazer mais essa fusão?
R: A minha conexão com a África já se dá desde 2010, quando comecei a ir pra o continente para trabalhar. Minha primeira experiência foi no oeste africano, em um país chamado Mali e eu passei alguns anos indo, trabalhando. Quando eu cheguei lá foi quase como um peso ter saído das minhas costas, eu pisei e já estava em casa. A linguagem cultural, o toque, as brincadeiras de criança, a musicalidade é muito similar a do que Brasil. Aí eu comecei a notar que essa conexão com esse lugares é muito maior do que qualquer outra coisa, então eu comecei a me sentir muito bem e vi que tinha essa semelhança. Não só cultural e musical, mas diversas coisas semelhantes.
Como foi trazer essa fusão para o trabalho?
R: A gente só conseguiu chegar nessa fusão maravilhosa porque somos maravilhosos. Cada um tem um trabalho muito bonito e não foi muito difícil não. Todos nós já tínhamos algo em comum que é essa sonoridade afro, então não foi difícil fazer algo junto. Os produtores também são incríveis. Então foi muito legal.
Como vocês acham que o publico brasileiro vai receber esse material? Quais as expectativas?
R: A gente trabalha com possibilidades, não temos certeza de nada. Trabalhamos com possibilidades daquilo que a gente sabe fazer. A ideia do Rafa de trazer essa regionalidade, de trazer elementos africanos e brasileiros e construir isso com uma base mais pop, mais industrial, acho que é uma aposta que estamos fazendo com o publico. A gente trabalha muito com a perspectiva das pessoas que ainda não ouviram a gente. Estamos apresentando ao mercado algo que é diferencial, estão esperamos ter uma entrada e a adesão do publico que não conhece a gente.
E sobre o clipe?
R: A historia do clipe é muito importante. Eu tenho um amigo, o Mailson Soares Santana, a gente morou junto nos Estados Unidos e tals e ele é quem cuida dos visuais das minhas coisas. Quando a gente foi fazer esse clipe eu sabia que seria ele. O nome da musica é “Ahue” (casa),então ele ia fazer a musica de qualquer jeito. A gente juntou amigos que não se viam a anos, nesse novo projeto. Todo mundo que está trabalhando no clipe é a galera da área, da família. A gente botou cento e poucas pessoas ali que estavam vivendo e querendo que desce certo. Quando acabou o clipe a galera começou a mandar mensagem: “mal posso esperar pra ver”. Toda essa torcida, no fim, é pra isso que a gente faz musica. Eu faço musica pra unir as coisas, ver a galera feliz.
Você acha que no Brasil da mais certo aquilo que faz mais sucesso fora, ou trazer o de fora pra cá pra dentro?
R: Acho que são duas coisas um pouco distintas. Na minha opinião, acho que a galera tende a olhar muito pra fora, como se a grama lá fosse um pouco mais verde. Culturalmente falando, acho a cultura brasileira muito mais rica do que qualquer lugar do mundo, tirando o continente africano que é o berço de tudo. Acho que somos muito criativos, mas acho que a galera tende a olha mais lá do outro lado e a replicar muito isso na musica. Mas olhando os números, a galera está consumindo muito musica nacional.
Sobre novos projetos?
R: Vai rolar uma união de continentes, sempre juntando o Brasil com outros lugares.
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