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Opinião: ‘Emilia Pérez’ cumpre o que promete e mais!

Emília Perez. Foto: Divulgação

Desde que foi anunciado, Emilia Pérez despertou curiosidade e expectativa. Um musical sobre narcotráfico e identidade, dirigido por Jacques Audiard (DheepanO Profeta), estrelado por Zoe Saldaña e Karla Sofía Gascón? A premissa por si só já parecia algo único, e a execução superou todas as expectativas. O filme não apenas entrega um drama potente e emocionante, como também desafia convenções narrativas e estéticas, tornando-se uma experiência cinematográfica difícil de esquecer.

Zoe Saldaña: uma atuação digna de prêmios

Zoe Saldaña. Foto: Divulgação

Zoe Saldaña é um nome consolidado em Hollywood. Ao longo dos anos, ela se tornou um rosto familiar nos maiores blockbusters da história do cinema, estrelando franquias como AvatarGuardiões da Galáxia e Star Trek. No entanto, em Emilia Pérez, a atriz se afasta dos papéis de ficção científica e ação para entregar uma atuação profundamente humana, que lhe rendeu uma merecida indicação ao Oscar.

No papel de Rita Moro Castro, uma advogada que se vê envolvida no plano de um poderoso chefão do crime para fugir de sua vida passada, Saldaña brilha. Sua performance é carregada de nuances, transitando entre o pragmatismo e a vulnerabilidade, enquanto sua personagem enfrenta dilemas morais e emocionais cada vez mais complexos. Há uma intensidade contida em sua atuação, uma força silenciosa que comunica mais do que qualquer monólogo poderia.

Karla Sofía Gascón entrega a performance de sua vida

Karla Sofía Gascón. Foto: Divulgação

Se Zoe Saldaña impressiona com sua profundidade emocional, Karla Sofía Gascón rouba a cena com uma atuação poderosa e transformadora. No papel de Emilia Pérez, a protagonista que dá nome ao filme, Gascón constrói uma personagem complexa, cheia de cicatrizes e desejos reprimidos. Sua jornada de redenção e autodescoberta é o coração da história, e a atriz se entrega completamente ao papel.

Gascón transmite uma gama impressionante de emoções, equilibrando a vulnerabilidade de alguém que deseja recomeçar com a presença imponente de uma ex-figura do crime. Há momentos em que sua interpretação é hipnotizante, e outros em que sua fragilidade comove. Sua atuação é tão marcante que, ao final do filme, é difícil imaginar qualquer outra pessoa nesse papel.

A consolidação de Selena Gomez

Selena Gomez. Foto: Divulgação

Selena Gomez assume o papel de Jessi Del Monte, a esposa americana de Juan antes de sua transição. A artista, que ganhou destaque em “Os Feiticeiros de Waverly Place” e consolidou sua carreira musical com hits como “Lose You to Love Me“, entrega uma performance sincera e emocional.

Embora tenha enfrentado críticas por seu espanhol americanizado, sua dedicação ao papel é evidente, e ela traz uma autenticidade que ressoa com o público. Em entrevistas, Selena mencionou que este papel “mudou sua vida”, indicando o impacto pessoal e profissional que a produção teve sobre ela. 

Jacques Audiard e a estética única do filme

Emília Perez. Foto: Divulgação

O diretor Jacques Audiard já provou ser um mestre em criar histórias intensas e carregadas de significado. Com Emilia Pérez, ele se desafia a explorar um novo território: o musical. Mas este não é um musical tradicional. Longe do glamour da Broadway ou das fórmulas previsíveis de Hollywood, o filme usa a música como um elemento narrativo inesperado e, por vezes, desconfortável.

Os números musicais não são exuberantes ou altamente coreografados; na verdade, há algo desengonçado neles. E é exatamente isso que os torna tão memoráveis. Eles reforçam a atmosfera de deslocamento, de uma história que transita entre o real e o onírico. A trilha sonora mistura gêneros, indo do trap ao folclore mexicano, refletindo a fusão de culturas e a identidade fragmentada da protagonista.

Além disso, Audiard constrói o filme com uma cinematografia marcante, explorando luzes neon, sombras dramáticas e uma paleta de cores que reflete os contrastes da trama. O visual é hipnotizante, quase como um sonho febril que se desenrola diante dos nossos olhos.

Um filme que desafia e emociona

Não há dúvidas de que Emilia Pérez não é um filme convencional. Ele desafia o público, brinca com as expectativas e entrega algo verdadeiramente original. Ao misturar crime, identidade e música, Audiard cria uma obra que ressoa de maneira única.

Os números musicais podem não ser seu ponto forte, mas, curiosamente, é essa estranheza que faz o filme funcionar. Em um mundo de narrativas cada vez mais homogêneas, Emilia Pérez se destaca justamente por sua ousadia.

Este é um filme que será discutido por muito tempo e, quem sabe, lembrado como um dos grandes momentos do cinema contemporâneo.

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