Brasil

Maurício Barros põe o coração na mesa em ‘Não Tá Fácil Pra Ninguém’, primeiro álbum solo

Foto: Divulgação / Crédito: Marcos Hermes

São quarenta anos de estrada — a maior parte deles no Barão Vermelho, que ajudou a fundar, com passagens por grupos como Midnight Blues Band e Buana 4. Mas havia um lado de Maurício Barros, tecladista e autor de sucessos como “Amor pra recomeçar” e “Por você” (ambas com Frejat e Mauro Santa Cecília) e “Puro êxtase” (com Guto Goffi), que parecia não caber em nenhum de seus projetos. Foi assim que começou a se desenhar Não tá fácil pra ninguém, primeiro álbum solo do artista, que chega às plataformas digitais dia 26 de novembro.

Ao longo de sua trajetória, Maurício colecionou composições, muitas íntimas, que jamais mostrou para outros gravarem. O desejo de realizar um trabalho solo existia, em paralelo aos outros projetos. Queria mostrar um lado seu que o público ainda não conhecia. Algo que fosse além do tecladista de uma das maiores bandas de rock do país. Quando tudo parou em 2020, ele quase não produziu, mas em 2021 se viu decidido a finalmente trazer à luz seu projeto solo. Foi um trabalho um tanto “charlie-chapliniano”, já que ele assumiu diversas funções: cantor, compositor, instrumentista, arranjador, produtor…

Das dez faixas, duas são assinadas por ele sozinho, e oito com parceiros musicais, entre eles Arnaldo Antunes, Fausto Fawcett, Otto e Mauro Santa Cecília. As canções trazem ainda participações de Dadi e Marcelinho Da Lua. Os músicos Mauricio Negão (da banda de Ney Matogrosso) e Lourenço Monteiro (Marcelo D2) tocam em todas as faixas. Para masterizar o trabalho, convidou o norte-americano Brian Lucey, que trabalhou com nomes como Elvis Costello, Liam Gallagher, Arctic Monkeys e outros. O projeto gráfico do álbum ficou a cargo do artista plástico Raul Mourão e do designer Marcelo Pereira.

O resultado é um trabalho que passa por diversos estilos musicais sem perder o (irresistível) apelo pop. Embora tenha mais facilidade em criar melodias, Maurício também dá muitos “pitacos” nas letras. “Eu mexo muito nas letras. Enquanto eu não me identificar com o que está escrito, eu não consigo sequer cantar”, garante ele. “Se você quiser me conhecer um pouco melhor, preste atenção nas letras. Eu estou ali, dizendo tudo o que penso. É um disco muito pessoal”, admite.

SOBRE AS FAIXAS

O álbum abre com a power ballad “Alô alô humanidade”, parceria com Fausto Fawcett de letra existencialista: “Vida insaciável irreversível/ inevitável/ festa imprevisível”, diz. Em seguida vem “Mania”, um pop solar dele com Mauro Santa Cecília, seu parceiro antigo, e a poeta Bruna Beber.  ”Essa chegada da voz feminina dá uma outra cor, um outro ponto de vista”, explica.

O rock surge de mãos dadas com o eletrônico em “Senti que dancei”, assinada por ele e pela compositora sergipana Patricia Polayne. “É tudo mais simples/ quando a gente se toca”, ele canta, conformado. Em seguida, vem “Como você está?”, um pop rock com letra romântica e confessional. “Bem oportuna nessa época de isolamento”, ri. A música conta com a participação do baixista Dadi (ex-Novos Baianos e integrante do A Cor do Som).

O blues dá as caras na reflexiva “A rua e eu”, composta com Gian Fabra, parceiro dos tempos de Buana 4 (banda que Maurício liderou entre 1988 e 1991), que também toca baixo na faixa. “Fala de solidão, de finais de relacionamento”, resume. O amor (aqui não correspondido) também é o tema da delicada balada “Zanzando”, parceria com Arnaldo Antunes. “Não vou ficar esperando/ nem açúcar, nem afeto/ nem me desesperando/ por seu desprezo discreto”, canta o artista. O gaúcho Jongui participa na programação.

A sétima faixa é também a primeira música de trabalho. “Abra essa porta”, parceria com Otto (que canta o coro), é uma improvável mistura de folk-rock à Edward Sharpe and the Magnetic Zeros com eletropop à Imagine Dragons e bateria marcada remetendo ao maracatu. “Abra essa porta, perca o seu medo”, incentiva a letra. “Ela é muito representativa do que é o disco, invocando um pouco essa coisa do maracatu, bem brasileira, ao mesmo tempo com uma sonoridade mais atual. Gosto muito do resultado e a participação do Otto é maravilhosa”, elogia. A música foi lançada em 22 de outubro e ganhou clipe dirigido pelo artista visual Luciano Cian.

Numa onda totalmente diferente, a faixa-título é um samba. “Não tá fácil pra ninguém” é uma parceria com Rogério Batalha, autor de músicas com Moacyr Luz, que surgiu de forma inusitada: pelas redes sociais. Quando estava pensando em um nome para o álbum, Maurício lembrou da canção — que sequer estava no repertório. “É um nome que cabe totalmente para o momento que vivemos” , observa. Um trecho da letra remete ao negacionismo dos tempos atuais: “Cansou de ver gente surtar/ por não confiar/ no que diz o doutor”. A música conta com as participações de Marcio Menescal e Marcelinho da Lua (programação), Márcio Alencar (baixo), Gabriel Loddo (cavaquinho) e Fabrício Matos (guitarra).

Em sua viagem sonora, Maurício Barros chega no ska, em “Já me sinto bem”. A canção é uma parceria com Bruno Levinson. Escrita há anos, teve a letra atualizada por Maurício. “Colaborei com alguns versos e ele gostou do resultado”, diz.

O trabalho chega ao fim com “Não desista”, balada indie rock, que tem uma das letras mais contundentes do álbum: “Não desista, porque ainda não chegou a hora, é preciso resistir”, ele canta. “Fala de resistência. É importante resistir contra todos os absurdos que estamos vivendo no país”, manda.

O recado da canção, aliás, tem a ver com a própria essência do disco. “Botar um trabalho autoral na rua é um ato de coragem e perseverança”, analisa o artista. “É uma alegria ver essas canções ao alcance de todos”. O coração de Maurício Barros está na mesa. Sirvam-se.

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