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A “Cidade Mãe” e seus contrastes

Essa semana meus pensamentos me levou de volta para o ano de 2016, quando eu tive a chance de conhecer a uma parte da África do Sul, a Cidade Cabo ou “Cidade Mãe”, como é chamada pelos nativos. Vivi ali por 6 messes e não podia deixar de compartilhar minha história com essa cidade. Então, venho aqui tentar fazer uma linha do tempo e dividir com você essa experiência de alma (Importante: Se prepare para o textão!).

Tudo começou em junho, quando estava procurando trabalho e resolvi em enviar currículos para oportunidades fora do Brasil. Mandai para várias oportunidades em diferentes países. E, depois de um mês tive um resposta positiva de uma empresa na África do Sul, perguntando se ainda estava interessada na vaga que eles tinham.

Eu, claro respondi que sim e logo comecei o processo de entrevistas e questionários. Tudo durou quase que uns 2 meses, até o esperado “Queremos te oferecer a vaga, a oportunidade é sua”. Quando abriu o e-mail e li, fui contagiada pelo sentimento de surpresa, satisfação, reconhecimento e curiosidade. Pois, eu iria para um país ao qual eu nunca havia pensado em ir – Eu ira para um dos lugares mais exóticos e selvagens do mundo a “África do Sul”. Além disso, eu iria trabalhar em um ambiente onde a comunicação era em Inglês.

O processo de contratação, juntamente com o pedido de visto de trabalho com a embaixada sul-africana, durarão uns 2 meses. Foi dias de ansiedade e tensão, pois aquele medinho que eles pudessem rejeitar meu pedido de visto, as vezes cutucava minha consciência me deixando ainda mais ansiosa. Mas, Deus é mais e meu visto foi aprovado no dia 02 de outubro de 2016.

Foram um mês de muita correria procurando voos com preço acessível e moradia no país. Tudo fluiu bem e no dia 04 de novembro, pela primeira vez eu coloquei meus pés em solo sul-africano, para então começar uma nova aventura cheia de experiências incríveis nesta terra de contrastes culturais, história forte marcada por muitas lutas, diferentes povos, vários idiomas e paisagens de tirar o fôlego.

Primeira foto tirado da Cidade do Cabo ainda dentro do avião.

Ainda no avião, quando meus olhos avistaram a pequena península da Cidade do Cabo emergindo entre o mar e as montanhas, meu coração bateu forte e ansioso para ver todas aqueles monumentos e paisagens naturais impressionantes que tinha visto na internet em minhas pesquisas.

Porém, o meu primeiro contato saindo do aeroporto foi totalmente ao diferente. Os barracos construídos na beira da rodovia, crianças brincando em meio a terra batida e gambiarras de eletricidade conturbando a paisagem, me deram as boas-vindas.

Favela perto do aeroporto.

No caminho para onde iria ficar hospedada, fui apreciando cada paisagem e movimento pela janela do carro e fui tomada por um turbilhão de sentimentos. Alguns de reflexão e preocupação e outros de alegria e entusiasmo para ver mais. Desde então, soube que minha estada na cidade seria de muitas emoções e questionamentos.

O primeiro contato com o transporte público foi terrível. Com os táxis (nome dado pelas vans que fazem transporte alternativo) não foi nada legal. A maioria dos motoristas colocam o som quase no último volume, embalados por músicas africanas, as quais nem podia entender direito. Pois poderia está em uma das 11 línguas oficiais falada na África do Sul. Além disso, a viagem era prolongada pelas várias paradas ao longo do caminho que iam enchendo a van até não caber mais ninguém dentro dela.

No entanto, a experiência mais marcante foi com os trens – Oh meu Deus! só para entrar no trem já requer habilidades (rs rs). Quando as portas do trem abriram, as pessoas começaram a se empurrar para conseguir entrar nele. Sempre lotados no horário de pico, as pessoas procuram qualquer espaço onde eles podem viajar. Seja em cima do trem, entre os vagões ou pendurados nas portas. Todos bem juntinhos, acoplados como numa lata de sardinha, mas dando espaço e voz para aqueles que pregam alguma religião ou estão a vender balas, chocolates ou frutas e verduras.

Além de todas essas confusões de pessoas em um só lugar, o trem também dava espaço à anúncios extremamente curiosos e inusitados, sem falar o quanto eles eram preocupantes e questionáveis para mim. Imagine você entrar no trem e logo de cara se deparar com um cartaz dizendo: “Confiáveis Pílulas para aborto” ou um “Creme para aumento do Pênis”?!

Anúncios dentro do trem

Outra coisa que chamou minha atenção foi a pobreza. Há muito morador de rua e eles estão por todas as partes. Debaixo de viadutos, perto das estações de trens, de paradas de ônibus e em qualquer lugar onde eles possam armar suas tendas.

No entanto, o que me tocou profundamente foi a divisão entre negros e brancos. Fora do centro dessa penisula, nos bairros perto das praias, é claro, estão os brancos, e ao redor, nos subúrbios, estão os negros. Triste saber que mesmo com toda a luta de Nelson Mandela para acabar com as diferenças entre raças, a cidade do Cabo ainda não evolui neste aspecto. As pessoas ainda se separam, mesmo que involuntariamente, por consequências de um passado cruel, cheio de dor e agressões contra os negros.

Tendas de moradores de rua em alguns pontos diferentes da cidade.

Já no trabalho, a experiência foi incrível. A empresa de geração “Y”, era abastecida por energia jovem e uma filosofia de comportamento livre e sem muito código. Nada obstante, a sua estrutura me impressionou imensamente também. Havia ali um restaurante café só para os funcionários e um bar para confraternização que funcionava nas sextas-feiras à partir das 17 horas, com bebidas ilimitadas, cedidas pela empresa. Sem mencionar as festas produzidas e temáticas da empresa. Realmente um mega evento.

Além disso, tinha um ambiente multicultural ao qual eu amo está inserida. Eu me relacionava com pessoas de vários lugares do mundo, desde a Alemanha, passando pela França, México, Brasil e outros mais. Era fantástico a troca de aprendizado, energias e conhecimentos.

Porém, o que eu mais gostei da empresa, foi a responsabilidade social que ela tinha com as pessoas necessitadas e a preservação da vida selvagem da África. Em um dos projetos da empresa, tive a oportunidade de participar da cerimônia de Natal de uma creche, em um bairro bem pobre da cidade. Ver o brilho dos olhos das crianças ao ver o papai Noel chegando com brinquedos e comida me contagiou, e encheu o meu espírito com a mais pura emoção de amor ao próximo.

Projeto de Responsabilidade Social Khumbulani da Rhino. Foto: Rhino Africa

Lá, meu caminho também cruzou com pessoas maravilhosas que tinham os corações mais bondosos que eu já pude conhecer até então. A família de angolanos que me recebeu em minhas primeiras semanas, me deu mais que boas-vindas, me adotou como parte da família -Julieta Muhongo, jamais vou esquecer nossas conversas sobe religiões, amor e filosofia de vida.

Julieta e Eu

Outra pessoa que caiu do céu foi a Safyia. Ela me deu mais que um quarto e uma cama confortável para dormir. Ela simplesmente abriu as portas da sua casa e me ofereceu o carinho da sua família. Ah, além de me alimentar super bem, Safyia é uma cozinheira de mão cheia! Ela também me introduziu ao grupo ” Food4homeless ” que ela conduz. Que lição de vida sair pelas ruas da Cidade do Cabo distribuindo comida para os moradores de rua, sejam eles negros, homossexuais, crianças, grávidas, deficientes físicos, portadores de HIV ou idosos . A palavra obrigada é muito pouco, para expressar tamanha gratidão e honra que sinto, por ter tido a oportunidade de conhecer cada um deles.

Projeto Food4Homeless

Os 6 meses que pude viver na “Cidade Mãe”, eu aprendi muito e evoluí bastante espiritualmente. A diferencia social, a pobreza e a divisão entre raças deixou meu coração um pouquinho triste, mas logo essa tristeza foi embora com alegria de viver e a fé desse povo sul-africano. Sem contar, da magnitude da natureza selvagem, as belas praias cristalinas e as montanhas ao redor desta península belíssima.

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