Pop
Sony Music lança vídeos inéditos do projeto ‘Cantora’, de Mercedes Sosa
A partir de 9 de junho, e ao longo de um mês, foram publicados no YouTube, pela primeira vez, 22 vídeos com músicas do lendário álbum “Cantora”, da grande Mercedes Sosa, lançado originalmente em 2009.
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“Cantora” foi seu último álbum e resume o alcance internacional da sua voz e o respeito de artistas de todos os gêneros musicais, não apenas do folclore argentino, que era sua especialidade. Até o momento, o que podia ser visto no YouTube eram apenas trechos parciais no documentário “Um viaje íntimo“, com cenas das gravações do álbum “Cantora”. A partir desse material original do filme, puderam ser criados esses 22 vídeos com as músicas completas, juntamente com cada convidado.
São duetos com Shakira, Fito Páez, Jorge Drexler, Joan Manuel Serrat, Pedro Aznar, René Pérez (de Calle 13), Lila Downs, Julieta Venegas, Gustavo Cerati, Charly García, Diego Torres, León Gieco e Caetano Veloso.
Para os brasileiros, sem dúvida, o dueto de Mercedes e Caetano Veloso, que será lançado no dia 8 de julho, é a cereja do bolo deste projeto. O cantor e compositor relembra hoje com emoção a experiência: “É uma honra para mim que isso tenha acontecido. A primeira vez que vi Mercedes cantar, num palco carioca, foi reveladora para mim. Eu a conhecia de gravações e a respeitava. Mas ao ouvi-la ao vivo fiquei maravilhado”, diz. “Depois de vê-la cantar no Rio, procurei falar com ela e a partir dali tivemos poucos, mas intensos encontros, inclusive uma visita a sua casa em Buenos Aires, sempre ouvindo com atenção aquela entonação bondosa de sua fala”, explica
Caetano classificou o encontro deles no dia da gravação da faixa “Coração vagabundo” como “doce e comovente”: “No estúdio havia uma atmosfera carinhosa e boa. Sinto-me mais inteiro tendo chegado a cantar com Mercedes. Fizemos isso no programa de TV Chico & Caetano e fizemos também na gravação de estúdio. Sou grato ao destino por esses acontecimentos”, diz ele.
Mercedes Sosa era uma cantora única, com uma linda voz e uma expressividade singular. Ela nasceu na província de Tucumán, no norte da Argentina, em uma família humilde e se tornou uma verdadeira figura internacional, capaz de encher auditórios na Europa, Austrália, Estados Unidos e toda a América Latina.
Sua carreira se desenvolveu no campo do folclore argentino, onde deu voz ao boom do chamado Nuevo Cancionero e depois à música latino-americana em geral, com versões requintadas de composições de Violeta Parra, Milton Nascimento e Silvio Rodríguez.
Durante a ditadura militar nos anos 1970, ela foi exilada e morou em Madri e Paris, mas, quando voltou, em 1982, sua figura se agigantou e conquistou a admiração de uma nova geração de fãs. Incorporou canções de artistas do rock argentino, como Charly García, e até se arriscou a cantar tango. Assim começou uma magnífica etapa, com canções de autores de prestígio de todo o mundo, unindo grandes figuras como Luciano Pavarotti e a concertista clássica Martha Argerich.
Ao longo dos anos, teve muitos reconhecimentos e recebeu todos os tipos de prêmios e menções honrosas, como o Prêmio UNIFEM das Nações Unidas e a nomeação como Embaixadora da UNICEF. Foi vencedora de 4 Grammys Latinos e um Grammy à Excelência Musical.
Mercedes Sosa e o Brasil
Mercedes Sosa começou a ser mais notada pelos brasileiros a partir de 1976, quando gravou o clássico de seu repertório “Volver a los 17” (Violeta Parra), com Milton Nascimento, num álbum do cantor. Dois anos depois, gravou mais duas dele, “O cio da Terra” e “San Vicente”. Em 1980, realizou um álbum solo ao vivo no país e, no ano seguinte, participou do clássico álbum “Traduzir-se”, de Raimundo Fagner, registrando em dueto com ele a canção “Años” (Pablo Milanés). O encontro com tais artistas não foi por acaso. Estávamos na época da ditadura militar e a cantora, conhecida por ser “a voz dos sem voz”, sempre buscou músicas que falavam de temas progressistas e da luta do povo contra agentes opressores, casando bem com os propósitos da MPB daquele período.
La Negra (como Mercedes era chamada devido à ascendência ameríndia) não parou mais de dividir os vocais com nossos grandes artistas, como a dupla Kleiton & Kledir (“Vira, virou” e “Siembra [Semeadura]”) e de regravar canções brasileiras de vulto, como “Viola enluarada”, “Gente humilde” e mais três do amigo Milton Nascimento, “Coração de estudante”, “Nos bailes da vida” e “Maria, Maria”, esta com grande sucesso. Em 1984, registrou em disco um show inteiro com ele e o conterrâneo Leon Gieco. Dois anos depois, convidada por Chico Buarque e Caetano Veloso, fez uma participação antológica no programa Chico & Caetano que ambos mantinham na TV Globo, cantando diversos números solo, mas também ao lado da dupla, de Gal Costa e, novamente, de Milton. No mesmo ano, gravou com Beth Carvalho a belíssima canção de protesto “Eu só peço a Deus (Sólo le pido a Dios”) no álbum da grande sambista, sua irmã em ideais.
Numa das muitas visitas ao Rio, em outubro de 2008, recebeu a Ordem do Mérito Cultural do governo brasileiro, no Teatro Municipal, e aproveitou para gravar um dueto mais que especial com Caetano Veloso para aquele que seria seu derradeiro álbum e seu testamento artístico, “Cantora”, do ano seguinte, pouco antes de nos deixar, aos 74 anos. A faixa escolhida foi uma das primeiras canções de sucesso do cantor e compositor, “Coração vagabundo”, que lançara com Gal Costa ainda em 1967, e voltava renovada. Agora, poderá ser vista também em vídeo, num registro até então inédito. A partir do próximo dia 8, aniversário da artista, a Sony Music o lança juntamente com outros 21 vídeos de duetos nas plataformas digitais.
A relação de Mercedes com o nosso país era tão forte que neste seu último álbum, “Cantora”, em dois volumes, havia ainda outras duas canções brasileiras. Uma em dueto com a musa da Axé Music Daniela Mercury, a canção “O que será (À flor da Terra)”, de Chico Buarque, e com o argentino Luis Salinas, o clássico bossanovista “Insensatez”, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes.
“Cantora” é o canto do cisne que a mostra em toda sua plenitude, animando-se a quebrar barreiras e preconceitos, demonstrando o poder unificador e curador da música.