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Questionando o rock como forma e estilo, Alaska reinventa em álbum ‘Ninguém Vai Me Ouvir’

Alaska. Foto: Divulgação/Stefano Loscalzo

Após encerrar o ciclo de seu bem-recebido álbum de estreia, “Onda”, a Alaska já tinha um nome dentro do underground, uma reputação na cena independente e todo um cenário musical de apoio. Mas isso não era o suficiente. Se guiando com o norte de uma busca por um trabalho sonoro e visual próprios, a banda rumou por um caminho quase oposto ao seguido anteriormente. “Ninguém Vai Me Ouvir” chega aos streamings trazendo tons de eletrônico, experimental e se mostrando frágil em algumas de suas letras mais diretas. O álbum é um lançamento Sagitta Records.

Da intensidade da troca com outros músicos e com o público em três anos de turnê do primeiro trabalho, ficou a vontade de ir além. Além de um aprofundamento próprio, para este disco, os músicos se inspiraram em relatos dos próprios fãs, que compartilharam histórias pessoais de forma anônima por meio da plataforma Curious Cat. Essas histórias estimularam o diálogo sobre as inseguranças, tristezas e segredos e fizeram a banda tentar se abrir mais liricamente e ousar mais na parte técnica.

“A ruptura surgiu de maneira natural, como resposta do nossos próprios descontentamentos e frustrações enquanto artistas, em relação ao que era – e ainda é – esperado de nós como uma suposta ‘banda de rock’. Um modelo que se sustenta pelo mesmo tipo de conteúdo e retórica, sendo fotos de show-sempre-sucesso nas redes sociais, ou exigindo que as canções sejam sempre dominadas pelas guitarras. Isso freia o desenvolvimento dos artistas, a reflexão do público e a dimensão do estilo, o que de certa forma empobrece todo o circuito e as possibilidades de conexão com a nossa audiência. Parece algo incoerente e bastante arrogante. E se é isso que se associa a uma banda de rock, queremos estar bem distantes daí”, reflete o vocalista André Ribeiro.

Além dele, a Alaska é formada por Nicolas Csiky (bateria), André Raeder (guitarra), Vitor Dechem (teclado, guitarra e voz) e Wallace Schmidt (baixo). Se autogerindo, o projeto intuitivamente se desdobrou como um coletivo, com uma equipe criativa que complementa os cinco no palco formada pelo trabalho visual, estético e da produção.

Essa criação coletiva está evidente na estética apresentada pela banda nos singles (“NVMO”, “_____________ vazio” e “Até o Mundo Acabar”) e na loja virtual criada para vender os produtos, feitos de forma quase artesanal, em volta do disco.

“Ninguém Vai Me Ouvir” foi produzido por Gabriel Olivieri (Cavalo) e pela própria banda e foi masterizada por Carlinhos Freitas (Classic Master). Guilherme Garofalo foi o responsável pela arte do álbum. O novo disco da Alaska é um lançamento Sagitta Records.

Ouça “Ninguém Vai Me Ouvir”:

Faixa-a-faixa:

1 – NVMO:

‘NVMO’, além de apresentar alguns caminhos novos do nosso ciclo criativo, explora uma estética sonora que propõe nos distanciar da prateleira onde foram colocadas as bandas de rock, e nos aproximar do público através de uma linguagem mais literal e direta, sem a mediação de um conceito ou uma abstração, como foi feito no ‘Onda’.

2 – tudobem

Essa faixa debate uma característica comportamental nociva e extremamente enraizada, que consiste em não demonstrar fragilidade e diminuir a fragilidade alheia.

3 – Amanhã vai ser pior

A faixa explora a ansiedade causada pela sensação de solidão, que torna-se ainda mais intensa ao decorrer de uma rotina que exige muito de sua capacidade emocional e organizacional.

4 – Até o mundo acabar

Essa foi a primeira música que eu terminei do disco. Existiam várias ideias, mas nenhuma saía do lugar. Depois dos eventos que resultaram nessa música, a composição aconteceu de uma forma muito mais natural e fluida. Acho que eu precisava, antes de qualquer outro assunto, falar sobre isso e registrar esse momento que foi muito importante pra mim. Agradeço muito à pessoa com quem tive esse momento.

5 – Me vi passar

Esta é uma reflexão dos dois anos de dedicação ao “Onda” e todos os processos envolvidos ao trabalho pós disco. A faixa explica um pouco a ruptura que buscamos com o novo álbum.

6 – Tem que ver isso aí

Nessa, nós exploramos a importância de estar em contato consigo mesmo e ser capaz de aproveitar sua própria companhia.

7 – Chuva passageira

A música expõe a relação de aprendizado criada com doenças como ansiedade e depressão.

8 – SUSHA

Essa música é um registro das relações criadas com meus amigos ao longo dos anos, das mudanças e constantes que pertencem a essas relações e da minha percepção desse convívio.

9 – O que foi nosso

Essa música torna eterno o momento da primeira despedida de uma relação, seja qual for a natureza. É o momento que precede o rompimento oficial o que torna-o ainda mais triste.

10 – infinita procura // eterno desligamento

Essa é a faixa mais “mística” do álbum. Trata de vários assuntos, às vezes simultaneamente. É um registro muito fiel da confusão mental ao construir as músicas desse disco.

11 – s u a v v e

Mais didática impossível. Não conheço ninguém que não compare seus objetivos, conquistas (ou falta de), às conquistas de uma geração passada e que não passe muito tempo refletindo sobre isso, chegando a conclusão alguma.

12 – só mais essa

Tentei retratar um pouco de como é pra mim, passar por um ponto baixo da existência enquanto administra vícios e luxos contemporâneos.

13 – ____________vazio

Essa é quase uma colagem de reflexões sobre minhas inseguranças e minha dificuldade de expressá-las de maneira simples. Talvez por isso ela seja a faixa mais autobiográfica do álbum, mas também acho que seja uma das músicas mais identificáveis que já escrevi.

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