“Isso é cria de Caxias, respeita quem vem de lá“. Assim canta Pocah na faixa-título do primeiro disco de sua longeva carreira. Foram inúmeros sucessos no funk e fora dele, pioneirismo na cena feminina e preconceitos vencidos por ser uma mulher preta periférica que não mede as palavras na hora de afrontar o machismo, mas, finalmente, ela chegou onde sonhou. O novo álbum da artista, “Cria De Caxias”, foi lançado na terça-feira, 03 de setembro, nas principais plataformas digitais, marcando um momento significativo em sua carreira de 14 anos.
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Chegando aos 30 anos de idade, uma data marcante, Pocah explica que este não é apenas um álbum, mas um projeto biográfico e conceitual que resgata suas raízes em Duque de Caxias, onde cresceu e encontrou inspiração. O título do álbum reflete essa conexão profunda com suas origens, trazendo à tona a pluralidade de sua identidade como artista. “Demorei para fazer esse disco, mas a espera valeu a pena”, comenta a cantora. “Aqui, entrego um trabalho completo e que representa quem eu sou e todas as fases que vivi. Nesse trabalho, o público vai conhecer histórias já contadas e outras guardadas a sete chaves — não só pela minha voz, mas pela minha arte.”
O álbum é dividido em três atos distintos e cada um representa uma fase da vida e da carreira de Pocah. Essa estrutura narrativa se faz presente tanto na sonoridade, quanto no conteúdo lírico das faixas, com cada ato sendo introduzido por uma interlude que marca o início de um novo capítulo.
Assista ao visualizer:
Primeiro Ato: “MC Pocahontas”
No primeiro ato, “MC Pocahontas”, Pocah revisita o início de sua carreira, quando se destacou como funkeira em Duque de Caxias. Este bloco inclui faixas como “SÓ DE RAIVA”, uma colaboração com Rebecca e Tati Quebra Barraco que explora temas de empoderamento feminino com o sarcasmo e o deboche característico de Pocah. A produção evoca a energia dos primeiros bailes de funk onde a artista se apresentou. “GOSTOSAS NO TOPO” é uma exaltação à própria auto-estima, enquanto “ASSANHADINHA” assume os holofotes como a primeira faixa já conhecida do público. Sucesso viral de 2023, ao lado do funkeiro caxiense MC Durrony, o single biográfico de Pocah sobre as madrugadas no Baile da RQ, tradicional de Caxias, já acumula mais de 15 milhões de plays nas plataformas. “DI MAROLA”, parceria com MC Kevin O Chris, mais um representante de Duque de Caxias, fecha o bloco com uma sonoridade que remete aos tempos em que Pocah viralizou nas redes sociais com suas danças sensuais.
Segundo Ato: “Pocah”
O segundo ato, “Pocah”, simboliza a transição da artista para uma fase mais ousada e experimental, onde ela explora novos gêneros musicais e adota uma postura pop sem abandonar suas raízes no funk. O destaque é a faixa-título “Cria de Caxias”, em parceria com a rapper Slipmami, que é um hino da cultura periférica. Ela canta “Nós é padrão de qualidade, o puro suco do Rio / Isso é Cria De Caxias, respeita quem vem de lá”. Slipmami rima usando frases que fazem referência à fase MC Pocahontas em suas letras rápidas. A faixa “Venenosa”, parceria com Triz e MC Gw, também já é conhecida do público e, em menos de uma semana, se tornou umas das músicas mais reproduzidas de Pocah nas redes sociais. “Conteúdo Sensível” reflete a evolução sonora da artista, com influências de R&B e uma lírica mais sensual, transicionando o disco para um lado mais distante do funk. “Brilho No Olho”, colaboração com L7NNON, encerra este ato com uma retrospectiva sobre a vida dela, celebrando sua jornada, superação pessoal e ascensão econômica.
Terceiro Ato: “Viviane”
No terceiro e último ato, “Viviane”, Pocah revela uma face mais íntima e emocional. Em um tom mais vulnerável, ela aborda temas pessoais, traumas e batalhas em faixas como “Livramento”, uma balada poderosa que fala sobre a experiência dela em um relacionamento abusivo e como sua fé se fez presente naquele momento. Na música, a voz de Pocah é acompanhada por um corpo de cordas orquestrais. Em “Nunca Tá Bom”, ao som de um violão, ela reflete sobre as pressões externas em sua vida e carreira. O álbum fecha com a faixa “Vitória”, uma música emotiva em que ela canta ao lado de sua filha, que tem o mesmo nome, celebrando a maternidade como uma de suas maiores conquistas e a grande força que a manteve firme em sua trajetória.
O disco foi produzido pelo DJ TH4I, colaborador de Flora Matos e Tassia Reis. Pocah assumiu a co-composição do projeto ao lado de três mulheres: Lary, que explora o lado mais romântico de artistas como Iza e Ludmilla; King, também de Duque de De Caxias, que já colaborou com Negra Li e Karol Conka; e Bruninha, que trabalha com diversos novos artistas como Tília e Melody.
“Cria De Caxias” marca o início de uma narrativa visual e performática que ganhará vida através de visualizers em todas as faixas e culminará em um show especial no Rock in Rio, no dia 20 de setembro, no palco Espaço Favela. Este palco, que ecoa às vozes da periferia, deixará registrada a apresentação histórica de Pocah honrando suas origens e sua evolução como artista.
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