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Brasil

Patricia Ahmaral traz Todo Torquato em álbum duplo

Crédito: Kika Antunes

Cantora mineira lança nas plataformas digitais, versão completa do álbum duplo “Patrícia Ahmaral Canta Torquato Neto”, unificando no streaming os dois volumes já lançados separadamente. O novo formato perfila em bloco 19 faixas do cancioneiro do poeta, letrista e multiartista piauiense, gravadas por ela em tributo inédito.

Patrícia inicia a divulgação em seu canal You Tube e redes sociais de um mini doc, onde conta sobre o histórico do trabalho, sonho antigo acalentado por ela e que ganhou a adesão de nomes como Jards Macalé, Paulinho Moska e Chico César, em participações especiais, além de Zeca Baleiro, na direção artística.

Com as divulgações, Patrícia aponta para os 80 anos de nascimento de Torquato Neto (1944-1972), que serão celebrados em 2024.

STREAMING COM ALMA DE VINIL

Com a popularização do streaming e as transformações nos modos de divulgação da música, alguns projetos mais conceituais tendem a ficar com o conteúdo fragmentado nas plataformas digitais de áudio. Era o caso do álbum duplo, “Patrícia Ahmaral Canta Torquato Neto”, tributo ao poeta, letrista e multiartista piauiense, que a cantora lançou no streaming, por etapas, entre outubro de 2022 e agosto de 2023, através de singles e de dois volumes divulgados separadamente: “Um Poeta Desfolha A Bandeira – vol.1”, com nove faixas e “A Coisa Mais Linda Que Existe – vol.2”, com dez faixas.

A intérprete lança finalmente versão completa e unificada, com as 19 faixas do projeto perfiladas, sob o título “Patrícia Ahmaral Canta Torquato Neto – Um Poeta Desfolha a Bandeira (1) & A Coisa Mais Linda Que Existe (2)”.

“Eu gostaria que as pessoas, mesmo no streaming, pudessem perceber o trabalho como um projeto, como um disco físico. Aquela sensação de abrir um LP, um vinil duplo, com um songbook do Torquato. ´Fotografar´ as canções como um conjunto e perceber o percurso dos pensamentos dele, através do espectro do cancioneiro gravado no álbum, que revela também a diversidade de parceiros com que ele compôs”.

Como letrista, Torquato Neto (1944-1972) compôs com nomes que vão de Gilberto Gil e Caetano Veloso a Edu Lobo e Jards Macalé, de Paulo Diniz e Geraldo Azevedo a Nonato Buzar e Carlos Pinto”. O álbum traz também parcerias póstumas criadas por por nomes como Zeca Baleiro e Chico César, revelando uma obra ainda em construção, mesmo 50 anos após a morte do artista.

TORQUATO X TORQUATO

Segundo Patrícia, a versão na íntegra agora lançada também permite confrontar mais amplamente o Torquato letrista, em obras como “Que Película” (parceria com Nonato Buzar) ou “Geléia Geral” (parceria com Gilberto Gil), criadas ainda em vida por ele, com o Torquato poeta, “transformado” em canções, em parcerias póstumas, como em “Go back”, em “Cogito” ou em “Quero Viver”, compostas respectivamente por Sérgio Britto (Titãs), Rogério Skylab e por Chico César, sobre versos do autor. Outro contraponto mais visível na nova versão do álbum, a do Torquato lírico-amoroso, abrigado no volume 2, em dez canções com suas letras de amor, com o Torquato do volume 1, das obras mais ligadas à Tropicália ou outras de outros períodos, de tons convocatórios, urgentes e confessionais, embora suas canções de amor sejam também atravessadas por esses afetos.

Ainda sem oportunidade de produzir um disco físico, Patrícia acredita que o formato unificado no streaming contribua para que as pessoas entrem em contato com esses aspectos.

O disco, que contou com direção artística de Zeca Baleiro e diversas participações especiais, é o primeiro songbook dedicado à gravação do cancioneiro com parcerias de Torquato Neto, que além de poeta, foi jornalista, cineasta e ator, figura emblemática na história da cultura nacional, um dos principais ativistas dos movimentos das artes nacionais de vanguarda dos anos 1960 e início dos 70, reconhecido como letrista revolucionário na canção brasileira moderna e parceiro em canções seminais da Tropicália – movimento do qual ajudou a pensar as bases. Em 2024 serão celebrados 80 anos de nascimento de Torquato, após, em 2023, suas obras terem sido declaradas “Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil”.

NOVA CAPA

Para o lançamento do novo formato, o projeto ganhou capa digital, criada pelo designer gráfico Chico Amaral, premiado artista visual, irmão da artista, trazendo a imagem de Patrícia, criança, em foto de 1972, e foto de Torquato, adulto, de 1971, marcando a diferença entre as gerações e sugerindo a perspectiva de temporalidade e reverência na relação da mineira com a obra do piauiense. As duas fotos foram colorizadas por inteligência artificial.

PARTICIPAÇÕES DE PESO

O disco contou com adesões importantes no diálogo com o repertório reunido pela intérprete, trazendo participações especiais da Banda de Pau e Corda, em “Louvação” (Gilberto Gil e Torquato Neto), Chico César, em “Quero viver” (Chico César e Torquato Neto), Jards Macalé, em “Let´s play that” (Jards Macalé e Torquato Neto), Maurício Pereira e Tonho Penhasco, em “Mamãe Coragem” (Caetano Veloso e Torquato Neto), e Projeto Moda de Rock , em “Marginália II” (Gilberto Gil e Torquato Neto), faixas do volume 1, e, no volume 2, feats de Ná Ozzetti, em “Que Película” (Nonato Buzar e Torquato Neto), Paulinho Moska, em “Jardim da Noite (Esses Dias)” (Zeca Baleiro e Torquato Neto) e de Baleiro, em “Go back” (Sérgio Britto e Torquato Neto), faixa que também ganhou produção musical do compositor maranhense, em colaboração com o músico e produtor Érico Theobaldo.

“São nomes de referência pra mim e na música brasileira e que nos ajudaram a provocar a obra do Torquato, promovendo conexões, como ele mesmo fazia. Um Torquato não se pode fazer só!”, brinca Patrícia.

PRODUÇÃO MUSICAL

A produção musical do trabalho, gravado na maior parte remotamente, durante o período pandêmico, é assinada pela dupla Marion Lemonnier (Honfleur-FR) e Walter Costa (Petrópolis), criando em conjunto, e por Rogério Delayon (Belo Horizonte), multiinstrumentista que integrava, no final dos anos 90, a banda que esteve com Patrícia, em noite na “Primeira Bienal Internacional de Poesia de Belo Horizonte”, apresentando o show “TorquaTotal”, idealizado pelos poetas Marcelo Dolabela (1957-2020) e Ricardo Aleixo, embrião que de alguma forma se desdobra neste álbum duplo, 25 anos depois. No processo remoto, as vozes de Patrícia foram gravadas em São Paulo, pela engenheira de áudio e produtora Gigi Magno, que as enviava para serem unidas às bases por Walter Costa, também responsável pela mixagem do projeto.

O álbum foi realizado através de recursos da Lei Aldir Blanc e de campanha de financiamento coletivo.

MINI DOC

Junto ao lançamento do novo formato do álbum, Patrícia inicia também a divulgação, em seu canal YouTube e redes sociais, de um mini doc em que ela conta sobre o histórico do tributo gravado por ela. O mini doc, que será divulgado em pequenas “pílulas”, traz depoimentos de Patrícia e de pessoas que colaboraram no trabalho. O audiovisual tem concepção e edição da artista visual e escritora paulistana Camilla Loreta, que também conduziu a entrevista com Patrícia. O mini doc tem cerca de 35 minutos e três partes distintas: Introdução e Volume 1, Volume 2 e Entrevista.

“Eu achei importante contar a história do álbum, porque é um projeto que se mistura um pouco com minha própria trajetória como artista, um sonho muito antigo. Também por conta das muitas colaborações envolvidas. Queria reverenciar e narrar sobre tudo isso. Um trabalho sincero da minha parte, ancorado no amadurecimento da ideia em torno do projeto ao longo do tempo e numa espécie de “não desistir”, na paixão por Torquato e no prazer de dialogar com esse repertório e com essa figura sensacional. Também não imaginava, lá atrás, que seria responsável por gravar um primeiro songbook dedicado ao Torquato. Quis criar um campo de memória em torno disso, onde a gente se cruza com ele nessa empreitada”..

UM PROJETO DE 25 ANOS

O embrião desta homenagem de Patrícia a Torquato remonta ao final dos anos 1990. Ainda em início de carreira e ao lado dos músicos que a acompanhavam à época (Celso Pennini, Luís Patrício, Rogério Delayon e Thiago Corrêa) Patrícia Ahmaral apresentou, em noite especial na “1ª Bienal Internacional de Poesia de Belo Horizonte” (1998), o show “TorquaTotal”, espetáculo idealizado pelos poetas Ricardo Aleixo e Marcelo Dolabela (1957/2020) e roteirizado e dirigido pelo produtor Pedrinho Alves Madeira. À época, Dolabela comentou: “Patrícia recebeu e cumpriu a missão de pegar o ‘escorpião’ vivo, eletrificá-lo e destilar seus venenos em mais veneno.” De certa forma, o álbum de agora é um desdobramento daquele momento, mais de 20 anos depois, porém com o repertório modificado e ampliado, novas colaborações e pesquisas.

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Written By

Jucilene, pernambucana, nascida em Recife. Formada em Produção Publicitária. Apaixonada por musica, filmes, séries e redes sociais.

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