PopEntrevista
‘No ‘Peruana’ estou falando assim: Vocês já conhecem o Qxó, estão ligados como é meu ritmo’ fala rapper sobre novo projeto
*com colaboração de Lucas Motta
O rapper Qxó lançou o mais novo projeto Peruana, no dia 15 de maio – o seu segundo EP de carreira solo, um resultado que vem sendo apresentado desde o ano passado com o single “Como que eu Fico”, em parceria com o cantor Ferrugem e “Piei Brotei” no início desse ano, em colaboração com Sain – ex-companheiro de Qxó na banda Start Rap.
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Com uma live marcada para o dia 25 de junho, onde irá apresentar pela primeira vez as músicas do novo trabalho, o rapper também vai cantar também músicas de trabalhos anteriores.
Qxó conversou com o Portal Popnow para falar um pouco sobre o EP Peruana, carreira, analisou o cenário do rap atual e contou como chega seu próximo projeto, ainda sem data de estreia, mas que promete muito e fora do âmbito que está acostumado.
Confira a entrevista na íntegra:
Popnow: Como começou sua história com a música?
Qxó: Meu contato com a música começou com o rock. Em casa minha família inteira é do samba, meu vô era compositor do salgueiro. Mas com 10 anos quando a gente começa a criar nosso gosto musical, fui para o rock raiz mesmo e até hoje eu gosto desse estilo. Aí um dia, lá pelos meus 14 anos minha irmã me levou para o Viaduto do Madureira, e cheguei lá vestido com roupas do rock mesmo e a galera olhou para mim meio estranho e perguntando o que um rockeiro estava fazendo lá né. A partir daquele momento que estive lá não parei mais e fui para Lapa, batalha do real, que são batalhas onde cada inscrito colocava um real, aí no final o ganhador levava tudo. E ia explorando outros lugares que ainda eram enraizadas com o hip-hop, como Jaguarepaguá, até que num momento no Viaduto do Madureira, conheci o Faruk e na Lapa conheci o Stephan, o Sain. Meu primeiro som mesmo foi sozinho, o segundo som da minha vida com o Sain. Na época o Faruk e Sain estavam juntos, e cheguei para os dois em 2006 e falei para fazermos uma banda e fizemos a Start. Nisso montamos as músicas, os shows, lançamos as músicas e depois do primeiro show na Fundação Progresso, de lá para cá foi só música e muita história para contar com a banda, artista solo, lançamento de ‘Empatia’ e agora ‘Peruana’.
Popnow: A banda Start deu um tempo para cada um focar em seus trabalhos solo. Vocês pretendem voltar ainda?
Qxó: Eu assisti a live do Falcão e falou assim ‘Vagabundo fala que Rappa acabou, o Rappa acabou o caralho, quem disse que acabou, me fala a matéria que vou lá e processo”. E é um pouco disso, a galera pensa que Start acabou e na verdade vou te falar uma parada, a gente deixa falar que acabou, mas a gente sabe que não acabou e não precisamos ficar falando isso para ninguém. Eu acho que assim, a gente saiu para o solo no momento que estava bom demais, então é bem aquilo se melhorar, no final estraga. Tem uma galera cheia de sede e a gente com vários potes de água, mas a gente está tranquilo e queremos que as pessoas não se assuntem se o Start lançar alguma coisa e ao mesmo tempo continuar na carreira solo, porque isso é o que é. A gente tem muito planos e se falamos todos os dias.
Popnow: Seu nome artístico chama bastante atenção e é bem diferente. Como nasceu o nome qxó?
Qxó: Apelido você não escolhe e é um nome que outra pessoa que dá. Eu parecia muito com o Superchoque, tinha dread e fazia também umas lutas marciais e começaram a me chamar de ‘Que Choque’ e isso foi espalhando e depois passou só para choque. Mas a galera do rap, hoje em dia não só do rap, a rapaziada falava de trás para frente e conversava e tudo mais. Aí Marechal falou meu apelido ‘Choque’ nesse trás para frente e ficou Qxó e aderi para dar uma diferenciada da minha identidade musical.
Popnow: Você lançou ‘Peruana’ hoje e ele é seu segundo EP da carreira solo. O que você procurou trazer para este novo projeto? Como avalia a diferença entre ‘Empatia’ lançado em 2017 com esse agora?
Qxó: ‘Peruana’ procurei trazer quem eu sou real, porque assim como eu falei a gente tem o período de banda, o período de solo que inicie com o single Xish e logo depois com ‘Empatia’. Quando você está com a banda você está respaldado pelas pessoas da banda musicalmente e isso acaba não saindo quem você é realmente e temos que chegar num senso comum. Com o Xish, foi mais uma brincadeira, porque é remix e não fiz a melodia. A diferença do Qxó do ‘Empatia’, para o Qxó do Start Rap, para o Qxó do Xish e para o Qxó do ‘Peruana’. É que no Start eu era uma parada onde tinha uma opinião, no Xish foi uma zoeira que acabou virando uma música de trabalho, que sempre existiu e ainda continuo fazendo remix, só não lanço. No ‘Empatia’ estou falando assim: O Qxó solo é assim, agora no ‘Peruana’ estou falando assim: Vocês já conhecem o Qxó, estão ligados como é meu ritmo. Ao mesmo tempo que estou falando de relacionamento, estou falando de treta, motivação e outras coisas. É dar uma diversificada não só no palavreado, mas também no jeito de impor as músicas entende, porque o mercado do rap está pedindo muito trap como está pedindo o R &B, bomm bap e misturar funk como em ‘Peruana’, por exemplo, e conseguir atender tudo isso é muito maneiro. É esse o Qxó, eu não preciso mais me apresentar.
Popnow: Antes do lançamento do EP, você apresentou a faixa ‘Como Que Fico’ com Ferrugem. Como surgiu essa colaboração? Porque ferrugem é um grande nome do pagode e ele se jogou para o rap. Como foi essa junção de dois ritmos tão distintos?
Qxó: Ali em Madureira e Portela tem até hoje uma festa de rap com pagode, um samba na portela com um rapper cantando, então automaticamente as gerações se conhecem. Conheço o Ferrugem desse de soul + samba que tocava no Viaduto ao mesmo tempo, que ele tocava no Castelão do Samba e no Portela tocávamos juntos. Essa faixa foi o seguinte, pegamos uma rima dali outra de lá, o Papatinho fez uma melodia e fiz um refrão e ficou faltando um pedaço que fiquei me perguntando o que estava faltando. Aí o Papatinho que tem os compositores dele, trouxe uma parada que encaixou certinho e veio a dúvida em quem essa voz ficaria boa, na hora mandei para o Ferrugem e chamei para fazer essa parte e topou na hora. Ele morava na frente do estúdio que estávamos e foi na hora lá gravar e só precisou de meia hora no fone de ouvido e foi para a cabine cantar. o Ferrugem encaixou muito bem nessa música. Assim como essa, todas as parcerias que trouxe surgiram de forma muito natural.
Popnow: Falando nessa junção de ritmos diferentes. Qual outro cantor de outro ritmo que gostaria de fazer uma parceria?
Qxó: Marcelo do Dead Fish, conhecido pelo apelido ‘Suicidal’. É uma meta e vou te falar, que não é tão difícil não, se eu der um papo nele, ele tá ligado na minha, dá pra gente fazer um som maneiro. Mas, acho que justamente como foi o ‘Empatia’, o ‘Peruana’, e como foi todos os trabalhos também a música tem que nascer, por que ela tinha que nascer, porque a música é um negócio, é um trabalho, é o nosso sustento, mas fazê-la com alma é muito mais maneiro e muito mais saudável. Conheço a galera no rock, pessoal do CPM 22, Detonautas, mas ainda não tive a chance de conhecer Suicidal e a música não permitiu ainda, se ela permitir, a gente vai permitir também, sacô? Isso acontece o tempo todo nos feats, até nos feats que não estão no meu disco, como nas músicas que participo de outros artistas que surgiram porque em algum momento se esbarramos e posso não ser melhor amigo das pessoas que eu já fiz feat, mas em algum momento a gente se identificou em alguma coisa. Com Suicidal, falta isso tá ligado? Mas é um cara que com certeza almejo e seria um casamento bom, uma parada bem inusitada inclusive, e eu acho que a rapaziada que curte a Dead Fish é a mesma que curte Start Rap.
Popnow: Com esse momento que estamos enfrentando, vem dificultando bastante. Mas o que tem planejado ainda para 2020?
Qxó: Então lancei o EP ‘Peruana’ e o lyric vídeo da música ‘Prometi Nada’, com o Luccas Carlos. ‘Como Que Eu Fico’ com o Ferrugem, e a ‘Piei Brotei’, com o Sain, já saíram antes. A do Sain saiu esse ano, a do Ferrugem saiu ano passado. Semana passada lancei ‘Cara Feia é Fome’, em formato de um Web Clip e no dia 2 de junho lanço a ‘Do Nada’ é um videoclipe mesmo e fecho essa tampa.
Popnow: Você gravou todos esses lançamentos audiovisuais antes do isolamento?
Qxó: Gravei bem antes do isolamento, na verdade eu gravei ano passado todos os clipes. Aí no dia 25 de junho é a live de lançamento do álbum ‘Peruana’, mas também vou cantar músicas da minha carreira também, e após dia 25 eu tenho datas que não posso dizer (Risos).
Popnow: Conta para gente só um pouco do que está por vir?
Eu não posso falar muito, mas vou te dar um spoiler, mas não posso falar de data. Vai ser um lançamento totalmente fora do âmbito do Rap, mas totalmente fora mesmo que será no ritmo Bossa Nova. Tá bom de spoiler.
Popnow: Como você vê o cenário do rap/ hip hop atualmente no Brasil?
Qxó: Digo que está maravilhoso né, tipo assim, não tá perfeito pra ninguém, acho que ainda mais nessa época de CoronaVírus, não dá pra falar de nada, mas assim, não estamos podendo reclamar muito, o rap tá sendo tocado bem. Um pessoa um dia falou assim que é uma parada real, onde não adianta o povo querer que o seu Rap, seja melhor que o dos outros, só porque alguém está em ascensão. Então primeiro que se comparar é ridículo, se comparar a alguém não pode, já começa errando. E essa parada do Rap hoje em dia, implica muito com o que estou falando. Maior galera reclama, não estou falando que não pode reclamar, mas cara, para de ficar reclamando que o Matuê e Xamã, tá ganhando dinheiro, e é só fazer o que eles fizeram, que aí você vai ganhar dinheiro. Todos os ritmos têm gente reclamando é claro, mas o rap está em uma fase boa, que eu acredito ainda ter bastante a crescer e ser mais aceito ainda, não estou dizendo popularizado não. Então pra ele ser aceito tem que falar em uma linguagem que ainda não é dele e acabar vindo em uma linguagem mais formal, a gente não consegue alcançar lá nas entranhas mesmo, falando o que a gente fala. Enquanto em outros países a linguagem é a do Rap está, nos trend topics do mundo, acho que isso ainda tem um pouco a ser lapidado, só isso, essa questão da aceitação. Do mesmo jeito que o preconceito não pode existir de um branco pra um negro, o preconceito não pode existir de um Rapper para um Pagodeiro. Então assim acho que vai rolar e essa galera que está agora na cena, é que está deixando isso mais as claras e basicamente por aí, cada um tem seu papel na parada.
Popnow: É cada um fazendo seu papel né e vocês conquistam o que querem?
Isso! Cada um fazendo seu papel mesmo, tipo, muita gente criticou o Matuê, e ainda não estou conseguindo entender isso, só porque ele foi no SÓ TOCA TOP, mano, tá maluco?! É um de nós chegando lá, tem que ter um dos nossos lá, só tem sertanejo, só tem do rock, tem que ter um nosso lá. Do mesmo jeito que tem de ter um nosso lá, tem que ter um com R&B mais puxado, em um âmbito que não alcance a Globo hoje ainda, alguém em um âmbito mais underground, por isso que o sertanejo é muito consolidado aqui no Brasil e o funk também, porque desde o início, tem os raiz, que são mais famosos, e os que fazem a mediação das duas coisas. E ninguém fica brigando por causa disso, só que no Rap ainda rola isso, e por causa dessas briguinhas que rola, é que não saem músicas e tudo atrasa o processo do rap.
Popnow: Quem é qxó?
Qxó: Qxó é o cara que primeiramente faz de tudo pelos amigos e olha o próximo com compaixão e não é o cara que é o bonzinho não tá ligado e muito menos se faz! Tenho minhas neuroses sim, tenho meus valores que não são rompidos também, além dos meus erros, porque sou ser humano e não preciso não tocar nesse assunto. Esse assunto tem que ser tocado sim, porque as pessoas erram sim! E quando perguntam da personalidade da pessoa e ela não fala sobre erros, acho que é uma coisa muito séria, porque se você coloca como uma pessoa que não erra, sabendo que todo mundo erra, então é importante falar do erro. Então assim, o Qxó é isso aí, não abaixa cabeça para os outros, se tiver errado pede desculpa, e é uma pessoa comum como qualquer outra. Qxó não tenta se colocar em um lugar onde seja mais alto do que alguém, ou melhor do que alguém para obter alguma coisa. Acho isso a decadência do ser humano, na verdade acho que é por isso que o ser humano chegou onde chegou.