A maré vermelha é um fenômeno da natureza que tinge a água do mar e, muitas vezes, a torna extremamente tóxica. Ela acontece no período de floração de determinadas algas marinhas – aquelas que parasitam outros organismos aquáticos ou se alimentam de matéria orgânica em decomposição – e pode trazer uma série de ameaças ao ambiente marinho e ao ser humano. Mas, da mesma maneira surpreendente como surge, a maré vermelha desaparece.
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Em um paralelo direto com nosso passado recente, pode-se dizer que vivemos uma maré vermelha em todo o planeta. Vimos pessoas queridas morrerem de uma doença que ainda não tinha vacina. Tivemos que rever nossa maneira de viver, de interagir, de pensar e passamos a ver a vida com outros olhos. Nossa relação com o consumo, com o próprio capitalismo, com a política, com o planeta, com nosso corpo, com o outro: tudo mudou para sempre. No Brasil, vivemos tudo isso com ainda mais intensidade, já que o país estava sendo desgovernado por um piloto fascista, que plantava diariamente ideias negacionistas, mentiras e hábitos milicianos, e se revelou um verdadeiro genocida.
Foi sob esse prisma que foram escritas as dez canções de “Maré Vermelha”, meu quarto álbum autoral. Por tudo isso, ele trata da impermanência das coisas. O repertório começou a ganhar forma a partir de um primeiro conjunto de canções bastante tristes, que fui escrevendo solitariamente. Fiz sete delas sem nenhum parceiro. Sinto que essa foi a fase mais vermelha desse compositor que tentava sobreviver à pandemia, tentativas de encontrar nas novas canções algum lugar mais ameno. Mas também um desejo de reafirmar que nada é permanente na vida e toda maré é passageira.
Ainda na fase intensa da pandemia, entrei em contato com Marcus Preto, produtor musical e diretor artístico que eu já conhecia e com quem ainda nunca havia trabalhado. Mostrei as canções e ele topou entrar nessa comigo. Àquela altura, eu já estava em contato com Lucas Vasconcellos, produtor multinstrumentista, que dividiu os arranjos com o parceiro de longa data Robson Riva, e já estávamos começando a desenhar a sonoridade que buscávamos. Com a entrada de Preto, ficaram mais claras as referências que seguiríamos, sobretudo o universo setentista de Jards Macalé.
Com exceção de “Anos Incríveis”, de Giovanni Cidreira, todas as demais canções de “Maré Vermelha” são autorais, três delas escritas com parceiros.
“João e Mariá” tem a voz e a mão divina do meu mestre e amigo João Donato. Parceiro de mais de uma década, ele esteve presente em todos os meus álbuns anteriores e não poderia faltar neste, cantando comigo. Nos últimos anos, Donatão já me deu a honra não apenas de gravar no disco dele, mas também de cantarmos em uma turnê internacional em que fomos de Lisboa a Moscou, de Paris à Montreux. Um mês antes de ele partir, gravamos juntos duas de suas últimas composições, ambas parcerias nossas. Uma seguirá inédita para ser lançada como single mais adiante, já que não tinha muita relação com a temática de “Maré Vermelha”. Mas “João e Mariá”, feita com nosso parceiro Romulo Ferreira, está totalmente imersa na atmosfera do álbum, falando justamente das relações e de nossa constante transformação e reconstrução. Diz a letra: “Ela não ama mais o homem que ela conheceu/ Só ama a versão melhorada do João que ela esqueceu”. E que bom que existam versões melhoradas, que bom que possamos nos transformar em pessoas melhores.
Uma parceira nova – e por quem já estou completamente apaixonado – é Lucina, mulher de história lindíssima, autora de canções históricas, metade da dupla Luli & Lucina. “Pé” tem melodia dela e letra minha. Finalizei com a frase: “Só o amor transformará”, pois acredito nisso desde sempre e cada vez mais.
A terceira canção em parceria é “Seu Carnaval Descansa”, música minha que ganhou letra de Romulo Fróes. Adorei o lugar em que Romulo chegou, a partir de um mote dado pelo Marcus Preto. Conta a história de um amor de Carnaval impossibilitado de evoluir pela falta do segundo encontro com a chegada da pandemia. Romulo canta essa comigo e convidei um timaço de artistas amigos de Belo Horizonte pra cantar no coro – Sérgio Pererê, Raquel Coutinho, Pedro Morais, Mari Blue, Clara Delgado e Guto Brant.
Também tive as participações especialíssimas de Assucena e Thiago Pethit em “Coração no Lixo”, música minha que foi lançada há dois meses como o primeiro single deste álbum. “Coração Dilacerado” foi o segundo, logo depois. Ambas ganharam videoclipes e quero fazer outros, já que a dramaticidade desse repertório traz milhares de imagens e possibilidades. Entre os instrumentistas, tive o privilégio de ter comigo Guilherme Held fazendo guitarras, Guizado no trompete e Robson Riva, na bateria.
O álbum inteiro tem produção de Lucas Vasconcellos e Marcus Preto, exceto por duas faixas, que foram pilotadas por Jongui e Guto Brant.
Se “Maré Vermelha” trata das ausências e impermanência das coisas, o convite é para que todos nós aproveitemos juntos a maré alta e os bons ventos que podem chegar junto com ela.
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