“Ambulante“. Não existirá melhor nome para um álbum autêntico, coerente e de uma artista corajosa como a Karol Conka.
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O ambulante é aquele que se joga ao mundo sem medo, sem pudor, levando suas andanças a todos, sem distinção, suprindo necessidades que até mesmo quem as tem desconhece. Essa obra é isso, cara. Um refresco pra quem tem sede e nem sabe que tem. É a bica do conteúdo que não faz distinção de quem vai beber. Está aí pronta pra servir ouvidos famintos em tempos de escassez de palavras. Boss in Drama é gênio e a mistura impensada é matadora. É manjericão com suco de uva, adoçado com batida marcante que cai como luva no potente discurso da Karol.
“Original, sem cópia.
Fiquei ali, parada por alguns minutos quando o disco terminou de tocar.
Original, sem cópia. Era esse o eco dentro do meu peito, na minha cabeça. Eu não escutava os sons a volta, nem mesmo minha barulhenta Copacabana que eu via pela janela, nem o mar revolto. Original, sem cópia. Sem cópia.
Minha esperança se encheu futuro nos segundos seguintes, depois do fim. Era um começo” – Karol Conka.
No clipe eu vi Iansã vestida de Conka vestida de Oxum. Vi uma das irmãs Virgílio (adoro as duas), sufocando fora d’água, num balé agonizante, universal. Vi o oco abafado da voz de quem grita até pra surdo ouvir. Vi preta protagonizando, vi preto protagonista, vi meu povo preto contando um viés do cotidiano.
Karol é com K, mas pode ser também com “O” de orgulho, com “R” de resistência, “F” de forte, de fama, de fome de mudar essa realidade dura que desenharam pra nós, no silêncio sorrateiro de quem vence, de quem contou nossa história por um prisma sujo durante décadas. A Carne mais barata do mercado encareceu, minha gente. Esse disco da Karol ajuda a melhorar essa cotação, sem depender de cota pra isso. Mulher, preta, mãe, artista, brasileira, produzindo em alto nível um disco na sala de casa, no íntimo do seu mundo. Sonhei tanto com isso, lutei tanto por isso. Que orgulho. Motiva meu grito.
Eu fui convidada para escrever o release desse trabalho. Decidi escrever sobre o quanto ele me emocionou. Vida longa a arte de Conka.
Ouça o álbum “Ambulante”:
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