PopEntrevista
Humorista Ana Carolina Sauwen lança livro de poesias sobre o puerpério: ‘é um pedaço muito íntimo’
Destaque no stand up comedy e nas mais diversas formas do humor, a carioca de 39 anos Ana Carolina Sauwen revela pela primeira vez ao público um outro lado: a melancolia da literatura. Tornando-se mãe de seu primeiro filho durante a pandemia, a artista escreveu o livro de poesias “A Mãe Desse Livro Não Sou Eu”, enquanto encarava as dores, delícias e questionamentos da maternidade, como a impossibilidade da presença na mãe, a dor da amamentação e a descoberta da imensidão do amor, através de imagens cotidianas. O lançamento está previsto para o fim do primeiro semestre de 2024.
- Fabrício Mascate fala sobre seu florescimento musical e racial em álbum de estreia
- MAR ABERTO fala sobre novo single ‘Maracanã’, inspirações, parceria com Pelé MilFlows e mais
- el escama fala sobre novo single “Suspensão Voluntária da Descrença”, novo álbum e mais
Em entrevista ao Pop Now, a autora fala que vem sendo desafiador expor esse lado ao público
- Quais os maiores desafios que você enfrentou em expor seus sentimentos do puerpério em um livro de poesias?
Acho que os desafios relacionados a isso estão chegando agora, na verdade. A escrita foi muito fluída, eu não pensava naquele momento que estava expondo nada, porque na hora da escrita ainda não tinha esse objetivo de virar um livro, eu não ficava pensando que outras pessoas iriam ler. Era a minha história, misturada às histórias de outras mulheres que estavam vivendo aquela mesma fase e que eu de alguma forma acompanhava, trocava sobre, cujos sentimentos, percepções eu desaguava na escrita. Mas agora, que eu começo a dar entrevistas sobre o livro, a falar de tudo isso, é que eu estou achando desafiador expor. Não sei, um livro é um pedaço muito íntimo de você, não porque tudo que esteja ali eu tenha vivido exatamente, mas porque tem um grau de revelação muito maior do que eu sinto ao, por exemplo, me apresentar como atriz.
- Como acha que os leitores irão receber esse seu lado?
Eu sinceramente não tenho ideia. Acho que vão ter certa curiosidade e surpresa, porque é algo bem diferente do que eles estão acostumados a ver de mim na internet, por exemplo. Mas são os mesmos temas que eu venho tratando nos meus vídeos de humor de maternidade, então acho que quem se identifica lá, certamente também vai se identificar aqui.
- Como você conecta a comédia e a melancolia da literatura? Vê alguma ligação entre eles?
Eu acho que não necessariamente a literatura é melancólica, mas no que cabe à maneira como eu lido com esses dois tipos de produção artística, eu acho que em ambos os lugares existe o mesmo mergulho na dor, nos buracos que a gente carrega e a partir deles expressões completamente diferentes. São formas distintas de transformar tudo aquilo que dói, na comédia olhando de longe, controlando mais intelectualmente e conseguindo rir de tudo aqui, na literatura se aproximando mais e deixando que a coisa toda mostre seu rumo.
- Passado o puerpério, já tem outros livros em mente?
Eu tenho trabalhado num novo livro de poesias, chamado “Todos Seus”, que reúne poemas de amor que eu escrevi ao longo da vida inteira, para diversas pessoas. To revisitando esses textos, reescrevendo, olhando para eles de novo
- Pode dividir um pequeno trecho de algum poema escrito por você e que você acredite representar essa fase da sua vida?
Claro!
Crocodilos e paixões
Abrir a boca de um jacaré
arrancar dali o meu filho
se preciso for
ele: intacto
Os dentes do jacaré
a fome do jacaré
tudo é pouco
pouco perto do amor
Porém
tem as coisas
as coisas que me devoram
comem devagar minhas ideias enquanto durmo
As coisas
são como pequenos homens
trabalhando sem parar
cerzindo o meu coração
Por causa deles
há uma infinidade de tarefas muito mais simples
do que vencer o jacaré
elas me esperam
mas soam impossíveis:
Tomar banho
descansar
marcar no chão uma linha
que diga
a partir daqui sou eu, meu filho
essa é quem eu sou
mesmo sem você
Porque aparentemente eu perdi
os limites da pele
os limites do cheiro
os limites da carne
Diluídos pela sua presença
amorosa e solar
que como a grande pata do seu dinossauro
esmaga a minha solidão.