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‘Eu quero que a mensagem dessa música, dessa leveza de se permitir sentir coisas boas chegue nas pessoas’: Carol Juno sobre o single de estreia ‘Replay’ e mais; confira
Nesta sexta (21), chegou às plataformas de streams ‘Replay’, single que marca a estreia da cantora e compositora Carol Juno em carreira solo e conta com a participação especial de DONATTO, que assina a autoria da música com Carol, Bian, U.GOT e Tainá Seabra.
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Junto com a faixa, Carol Juno também faz a estreia de seu respectivo videoclipe, que novamente traz a participação de DONATTO. O vídeo foi gravado na Casa das Romãs, no Alto da Boa Vista, sob a direção de Lucas Melo e a direção de fotografia de Victor Hugo Saldanha e Felipe França.
‘Replay’ conta a história de pessoas que querem reviver um momento muito bom da vida delas‘, diz Carol Juno, que parar criar a letra da música se inspirou na série ‘Heartstopper’, da Netflix.
Nessa nova fase, a cantora passa a incorporar o nome Juno artisticamente, além de sua sonoridade vir agora com uma levada mais pop. Até o início de 2020, a jovem cantora integrava a banda de pop rock Os Caras e Carol. O quarteto teve uma breve e bem-sucedida trajetória, que culminou com algumas apresentações da banda no Rock in Rio, em 2019.
Confira a entrevista com a Carol Juno:
1- Como foi o processo de composição de ‘Replay’?
Carol Juno: O processo dessa música, eu já tinha já tinha escrito uma música com os produtores dessa música né, Bian e o Guto, e um belo dia eu resolvi parar pra assistir alguma coisa, maratonar alguma coisa. Faz tanto tempo que eu não paro para relaxar, desligar a cabeça, não pensar em trabalho. Fui assistir Heartstopper, e eu maratonei a série inteira de uma vez só, de cabo a rabo, todos os episódios, terminei chorando, acabada, em depressão, e aí no dia seguinte eu falei gente eu preciso entender o que foi que me pegou nessa história sabe. Fui na livraria, comprei todos os livros que eu achei do Heartstopper, passei três dias lendo um livro por dia para entender, e aí eu entendi o que tinha nessa história que me pegava tanto. Que a história de um casal de meninos, é uma história sobre amor LGBTQIA+ que não é sobre tragédia, não é sobre tristeza. Porque assim, muito das narrativas LGBTQIA+ que a gente vê são sobre tragédias, sobre tristezas, sobre sofrimento, são sobre esses amores impossíveis e eu acho muito importante a gente falar da crise da AIDS, eu acho muito importante a gente falar de tudo isso na mídia, porque as pessoas precisam saber. E a gente merece uma romântica de vez em quando, algo assim doce de açúcar puro, a gente merece. Então quando eu assisti a série, e eu vi que era sobre esse amor adolescente, e não é sobre tristeza, é sobre duas pessoas se apaixonando e eu falei ‘poxa tão bonito e me deu uma sensação tão legal’ porque eu não tive essa experiência quando era adolescente, na escola sofrendo bullying, era muito complexo, era muito complicado, então eu não me sentia confortável para conhecer as pessoas e muito menos para me apaixonar. Então a série e os livros me permitiram ter essa experiência e foi isso que eu quis fazer com a música, uma música que tivesse essa sensação leve de primeiro amor, mas que eu pudesse toda vez que eu ouvir, sentir isso de novo pela primeira vez e eu queria que a música sintetizasse esse sentimento porque toda vez que ouvisse pudesse ter uma experiência boa. Então eu expliquei isso para eles, eu passei algumas matérias falando sobre a série para eles, a gente sentou para escrever, eles me apresentaram o beat, eu o Guto a Bia e a Tainá Seabra. A gente escreveu uma parte da música e falou ‘pô, tem que ter outra pessoa nisso’ e pensamos no Donnato. Donnato escreveu o verso dele separado, mas a gente se juntou para gravar as vozes, e quando a gente viu, a gente tinha uma música super leve, descontraída e para cima sobre amor. Então isso foi um processo muito legal, um processo muito esclarecedor também para mim, foi bem legal.
2- A faixa conta com participação do Donnato, como foi trabalhar com ele e como foi feito o convite pra ele colaborar nesse single?
Carol Juno: Então o Donnato é muito querido, muito gente boa, super engraçado, muito tranquilo e super solícito também. Quando a gente tava pensando em possíveis parceiros para música, ele foi um dos primeiros nomes que a gente pensou porque que ele escreve muito bem, ele canta muito bem, eu já conhecia o trabalho dele, e ele já conhecia o meu, que a gente tinha se conhecido num evento da gravadora, da Universal Music. Em 2019 a gente trocou redes sociais e ficou acompanhando um o trabalho do outro e assim, eu não lembro agora qual de nós que falou ‘ah, o Donnato’ mas quando esse nome veio eu falei ‘cara ele escreve para caramba, ele canta para caramba, ele é ótimo, claro, vamos chamar o Donnato’ e assim, ele tava viajando quando ele recebeu a letra e a guia com a minha voz, e ele falou ‘vamos se encontrar, vamos gravar, a gente vai organizar aqui e vamos gravar’. Acho que ele levou umas duas, três semanas, mas ele veio super animado pro estúdio com opções de verso ‘não porque tem melodia aqui, a gente pode fazer essa dobra quando for gravar, a gente pode fazer isso, pode fazer aquilo’, cheio de ideias, então foi muito legal porque além de chamar uma pessoa para participar de uma música que fala de duas pessoas, que fala de um sentimento compartilhado então fazia todo sentido ter mais alguém, ele veio muito entusiasmado pra fazer, ele veio acreditando muito na música e eu acho que é o mais legal, fazer música com pessoas que querem participar do processo e contribuir, então foi ótimo, foi maravilhoso trabalhar com ele.
3- ‘Replay’ chega com um videoclipe. Como foram as gravações que também conta com Donnato, e porque escolheram o Alto da Boa Vista como set de filmagens?
Carol Juno: Então, esse clipe é produzido por uma produtora chamada Lanterna Filmes, que é uma produtora de amigos meus, que eu sou formada em cinema, e a gente se conheceu no primeiro período da faculdade. Então a gente tá a muito tempo sonhando ‘não a gente vai fazer um clipe, a gente vai fazer alguma coisa’ e esse tempo todo a gente vem trocando, pensando com essa possibilidade. E aí a gente finalmente se encontrou e falou ‘pô vamos fazer’ e pensamos num projeto, pensamos numa história, e o negócio do Alto da boa Vista de escolher aquela casa, a casa das romãs que é um lugar lindo, eu acho que foi também para ser uma coisa anacrônica, tipo atemporal sabe, de ser um sentimento que passa do moderno dos anos 2000, do metalizado daqueles balões cinza e do CDs na parede, do brilho, mas que também é um sentimento que com certeza existiu numa casa que foi de 1850 e é um sentimento que existe hoje. Então eu acho que essa mistura de ideias e de possibilidades de tempos diferentes e assim, a casa é linda, a dona da casa das romãs, ela mora lá. Todos os móveis da casa são de curadoria dela, então ela que comprou, e é tudo de acervo, é tudo vintage. A gente entrou lá dentro e parecia que você tava mergulhando no universo diferente que é muito bom quando você vai filmar porque te ajuda a entrar, é maravilhoso. O clipe, a gente criou a história junto, o roteiro mesmo do Lucas Melo, mas eu acho que foi uma criação de todo mundo porque a gente vinha sonhando com isso há tanto tempo. Foi muito legal, e as pessoas que estão no vídeo, na festa são amigos meus, a gente chamou os nossos amigos para participar também, então no fim das contas todas as pessoas que desde o início estavam comigo que falaram ‘pô a gente quer ver você vencer, a gente quer ver você conseguir’ são as pessoas que estão lá no vidro. É a vitória de todo mundo junto.
4- Antes você integrava a banda de rock ‘Os Caras e Carol’. O que te fez seguir outros rumos, assumir outro nome artístico e ir pra outra sonoridade?
Carol Juno: Então eu desde pequena, desde tipo muito pequena, sempre ouvi música pop, a minha formação musical assim, do meu imaginário musical, eu devo o meu irmão mais velho Felipe, porque ele queimava muito disco, ele fazia as playlists dele, gravava os discos e quando ele não queria mais ouvir um disco ele passava para mim, então eu tinha o meu discman que eu tenho até hoje, funciona até hoje, e ele me passava os discos então eu ouvia muito Pussycat dolls, ouvia muito a Britney, muita Christina, muita Beyoncé, eu ouvi muita Avril Lavigne, ele também gostava muito de The Killers gostava muito de Maroon 5, ouvi muito disso crescendo. Ee a gente sempre compartilhou esse gosto musical, eu e meu irmão, até hoje a gente ouve as mesmas coisas. O pop-rock aconteceu na minha vida. Eu conheci os meninos da banda, na época que eu estudava teatro. A gente queria fazer um musical, não virou musical, virou banda e a sonoridade dos Caras e Carol era tipo uma mistura de tudo que vinha de cada um, e a gente foi criando, teve a trajetória que a gente teve, uma das maiores felicidades da minha vida, dizer que eu vivi isso. Mas quando a pandemia chegou, eu acho que todo mundo foi obrigado a olhar para dentro, pensar assim ‘cara eu tô vivendo no futuro distópico dos livros mais absurdos que eu podia imaginar’, ‘eu tô vivendo jogos vorazes misturado com apocalipse’ sabe, umas coisas muito loucas, e pode ser que seja isso pode ser que acabe aqui. Eu tive covid duas vezes, e assim eu não fiquei muito doente mas foram momentos que eu pensei ‘cara se eu não fizer o que eu quero, se eu não olhar pra dentro agora eu não vou olhar nunca mais’, então eu acho que foi muito disso também, de me permitir olhar e ouvir o que o meu coração estava me dizendo, não o que a minha cabeça lógica, racional, virginiana com ascendente em capricórnio tava me dizendo pra fazer, eu tinha que ouvir o meu coração o que a Carol quer, e eu tinha muito sonho de ser a princesa pop, a pop-girl, eu sempre sonhei com issoz eu nunca me permitir viver esse sonho. Eu falei ‘cara eu acho que eu mereço, eu mereço essa felicidade, eu mereço ter isso na minha vida’. E o Juno não é meu sobrenome, foi um nome que eu pensei muito pra achar, foram dois anos pensando num nome. Eu tenho uma amiga que é muito de astrologia, então ela leu meu mapa para mim, me fez entender melhor sobre isso e falei ‘cara então eu vou pesquisar uma coisa, precisa ser um nome que fale de tudo em mim’. E aí eu comecei a pesquisar nome de seres mitológicos, de deusas, e eu cheguei no nome dessa deusa Juno, que é meio equivalente a Hera da mitologia grega. Juno é a esposa de Júpiter, é a deusa do comprometimento. As pessoas falam matrimônio, mas ela é muito mais sobre se comprometer com o que você ama, e no meu caso eu amo a minha música, eu amo a minha arte, então ela é sobre o meu comprometimento com o que eu gosto. Então o nome fala sobre isso, fala de astrologia, porque fala onde minha Juno é no meu mapa, onde meu Júpiter é no meu mapa, fala do meu lado mais nerd, fã de Star Trek, fã de filme de super herói, essa coisa toda espacial, de tudo eu sou. E cara é perfeito, esse era o nome que tinha que ser, então eu me permiti ter um homem que falasse de mim, então isso foi muito legal também, chegar nesse nome.
5- Você é famosa no Tik Tok, com 12,5k de seguidores. Você pretende trabalhar ‘Replay’ por lá também?
Carol Juno: Sim, com certeza. Eu acho que o Tik Tok permite um potencial criativo muito grande, as formas como as pessoas criam em cima da obra dos outros. A possibilidade de você pegar o áudio de uma música e criar uma coisa nova em cima, porque assim a música é minha enquanto eu tenho ela só para mim, depois que eu lanço, a música do mundo, a música de todo mundo, para interpretar e para criar, e pensar o que quiser. Eu posso até ter o meu, mas a música vai bater diferente para cada pessoa, então o Tik Tok eu acho que a possibilidade de criar em cima das coisas assim é muito legal. As minhas amigas já falaram ‘eu vou chegar em casa e vou fazer fancam dos personagens que eu gosto das coisas que eu gosto’ e eu falei ‘faz pelo amor de deus eu vou achar o máximo’ , então eu tô muito animada também, para criar mais coisas nas redes, no Tik Tok com a minha música.
6- Além do pop, você tem outros estilos musicais que gostaria de explorar nesse novo momento de sua carreira?
Carol Juno: Eu tô ouvindo muito hyperpop, gosto muito Charli XCX. Eu tenho uma playlist de referências com coisas da Rina Sawayama, da Charli, da Caroline Polachek, eu adoro essa pegada do hyperpop, gosto muito também da sonoridade do K-Pop, eu sou Kpopeira de muito tempo, eu acho que tem muita coisa do K-Pop muito boa de explorar. Eu acho que o próprio R&B foi uma referência muito grande pra essa música especificamente, inclusive as coisas do bounce. As possibilidades são infinitas, nem eu sei o que vou fazer. Já tenho algumas coisas prontas, mas tem outras coisas que eu quero explorar.
7- Quais são suas expectativas com esse lançamento? E o que podemos esperar de Carol Juno nessa nova solo?
Carol Juno: Olha eu eu acho que é muito importante a gente, o artista também, porque a gente fica muito ansioso. Eu que sou muito ansiosa esse fica naquela lá ‘ai meu Deus, eu vou acordar amanhã e vai ter um milhão de plays ou eu vou acordar amanhã e ter sido um flop tão grande que o Spotify vai tirar minha música da plataforma’. Então não dá nem para achar que vai fracassar ou achar que vai ser o maior sucesso do mundo. Eu quero que a música chegue nas pessoas, eu quero que as pessoas se identifiquem, que elas sintam coisas boas. Eu acho que tudo que eu faço é para comunicar as coisas no que eu acredito, para passar uma mensagem, e foi por isso que eu fui estudar teatro, foi por isso que eu fui estudar cinema, por isso que eu gosto de compor, é tudo para passar a falar das coisas que eu acredito, que eu acho que são importantes. Eu quero que a mensagem dessa música, dessa leveza de se permitir sentir coisas boas chegue nas pessoas, e é isso que eu quero para as próximas coisas que vem aí, é contar histórias que cheguem nas pessoas que eu consiga me comunicar e que toquem as pessoas, e de alguma forma criar esse diálogo dessas histórias que a gente compartilha e às vezes a gente não contam com outra e você acha que tá vivendo uma coisa sozinho mas na verdade tem um grupo de pessoas, uma comunidade de pessoas que vivem os mesmos sentimentos que você. Eu acho que isso é muito importante também, ter essa sensação de que você não tá sozinho, porque durante muito tempo eu me senti sozinha, e lançando as músicas até na época da banda e agora, vê que tem pessoas que sentem na mesma forma que eu é muito reconfortante, isso é coisa que eu quero também. E óbvio, tocar no Rock in Rio de novo, quero viajar, e tudo isso agora eu tô me permitindo sonhar com essas coisas também.