Brasil
Elis Regina 80 anos: relançamento especial celebra o legado da cantora
No dia 17 de março de 2025, Elis Regina faria 80 anos. Para celebrar as oito décadas dessa que segue sendo uma das maiores cantoras desta terra de grandes cantoras, a Universal Music Brasil prepara uma série de homenagens. A primeira delas é o lançamento de “Elis”, álbum de 1973, em versão remixada pelo produtor João Marcello Bôscoli, filho da artista. O disco sairá em vinil, digital e em Dolby Atmos — tecnologia de som imersiva de alta fidelidade.
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Além do relançamento de “Elis”, para a celebração dos 80 anos estão previstas compilações digitais a serem lançadas ao longo de 2025 e 2026. As gravações serão todas extraídas dos catálogos da Universal Music Brasil e da EMI Music, o que compreende discos lançados entre 1975 e 1980, além dos compactos do período.
A lista completa do acervo, que cobre quase toda a carreira da cantora, inclui os seguintes títulos:
– “Samba eu canto assim” (1965)
– “2 na Bossa — Elis Regina, Jair Rodrigues e Jongo Trio” (1965)
– “O fino do fino — Elis Regina e Zimbo Trio” (1965)
– “Dois na Bossa número 2 — Elis Regina e Jair Rodrigues” (1966)
– “Elis” (1966)
– “Dois na Bossa número 3 — Elis Regina e Jair Rodrigues” (1967)
– “Elis especial” (1968)
– “Elis Regina in London” (1969)
– “Aquarela do Brasil — Elis Regina e Toots Thielemans” (1969)
– “Elis, como e porque” (1969)
– “Elis no Teatro da Praia com Miele & Bôscoli” (1970)
– “Em pleno verão” (1970)
– “Ela” (1971)
– “Elis” (1972)
– “Elis” (1973)
– “Elis & Tom — Elis Regina e Tom Jobim” (1974)
– “Elis” (1974)
– “Falso brilhante” (1976)
– “Elis” (1977)
– “Transversal do tempo” (1978)
– “Elis especial” (1979)
– “Elis” (1980) – EMI Music
Esse acervo reúne discos que testemunham a história da música popular brasileira, em capítulos como o samba-jazz do Beco das Garrafas e os festivais da canção. Mais do que isso, eles ajudaram a definir os caminhos que nossa música traçaria. Não é exagero afirmar que muito do que se entende por MPB foi formatado pelos álbuns da cantora, em especial “Elis”, de 1966. Ao longo da carreira, ela também lançou e/ou projetou nomes como Milton Nascimento, João Bosco & Aldir Blanc, Gilberto Gil, Tim Maia, Sueli Costa, Edu Lobo, Ivan Lins, Belchior, Renato Teixeira e Guilherme Arantes.
Sua vida foi interrompida prematuramente em 1982. Mas não é exato dizer que estamos sem ela há mais de quatro décadas. Afinal, nesse período ela esteve mais do que presente: a matriz de canto que ela definiu em sua discografia segue influenciando cantoras brasileiras (e estrangeiras, como Björk); suas gravações continuaram, ao longo dos anos após sua morte, embalando trilhas sonoras de novelas, séries e filmes; sua memória não cansa de ser celebrada em livros, filmes, peças, shows e homenagens mil.
Ainda sem data definida, o relançamento do álbum “Elis”, de 1973, em versão remixada, é um símbolo desse legado. O disco contém clássicos de sua carreira, como “É com esse que eu vou” (Pedro Caetano), “Folhas secas” (Nelson Cavaquinho), “Ladeira da Preguiça” e “Oriente” (ambas de Gilberto Gil). A modernidade da sonoridade alcançada ali — com uma banda cujo núcleo era o dream team César Camargo Mariano (piano e teclados), Paulinho Braga (bateria), Chico Batera (percussão) e Luizão Maia (baixo elétrico) — serviu de referência para uma certa forma de se fazer samba que aparece, por exemplo, no trabalho de artistas como Djavan em seus primeiros anos.
— É um momento em que é desenhado um som pra ela, a partir de elementos como a abordagem, discreta mas fundamental, de César Camargo Mariano sobre os sintetizadores da época — avalia João Marcello Bôscoli. — Se o Brasil tivesse um pensamento, em termos musicais, como sempre teve os Estados Unidos, essa sonoridade ganharia um nome, seria entendida quase como um subgênero. O disco documenta esse momento de virada de página, de uma nova etapa na música e também na vida. Porque ela estava entrando num novo casamento (com César Camargo Mariano), mudando-se pra São Paulo… Enfim uma série de nuances humanas.
João Marcello Bôscoli explica que o trabalho dele e de sua equipe na remixagem de “Elis” é “respeitar 110% os planos originais de quem fez o disco”. Ou seja, sem mexer na concepção sonora do álbum, fazê-lo soar mais nítido e brilhante, a partir de recursos que a tecnologia atual permite.
— A primeira coisa que fazemos é tirar tudo que não pertence à gravação: chiados, cliques… — explica João Marcello. — A gente vai no limite do que consegue extrair sem afetar o timbre do instrumento. Outra coisa: na época, as frequências mais graves que poderiam jogar a agulha fora do sulco do vinil eram cortadas. Nessa nova versão, tudo que era ouvido dentro do estúdio está no disco. O grave do Luizão está lá pleno, assim como o bumbo da bateria. A partir da restauração, iniciamos a remixagem, sem alterar em nada seu conceito. Ou seja, se o chimbal está do lado esquerdo, ele não vai pro lado direito. Se a relação de volume entre o baixo e a bateria é aquela, é aquela que ficará. Mas o resultado final traz uma diferença muito grande. Esses microdetalhes vão dando uma clareza, as texturas originais aparecem mais.
Ainda sobre respeitar os planos originais, há um mandamento que João Marcello segue à risca toda vez que trabalha sobre as gravações de Elis:
— Não tem nenhum tipo de correção vocal de afinação na Elis. É proibido. Primeiro, porque não quero criar algo que Elis não aprovou. E, em segundo lugar, não quero passar a régua na voz para alcançar algo que não existe na natureza. Até porque a Elis usava a afinação pra interpretação. Às vezes puxa a nota um pouco pra cima ou pra baixo, de acordo com a mensagem que quer passar. Tem um jeito de atacar a nota que ela escolheu, ora indo direto, ora indo na direção dela até alcançá-la. Ela dominava aquilo. Nunca achei uma emenda nas gravações dela. É sempre um take, com a música cantada do início ao fim. É muito legal isso quem está ouvindo saber disso.
A versão física do produto estará disponível em breve na UMusic Store. Saiba mais em: https://www.umusicstore.com/elis-regina.