Opinião
Eles ainda não ligam pra gente: 11 anos sem o Rei do Pop
Indiscutivelmente o rei do pop hoje e para sempre, ao completar 11 anos de sua morte, ao mesmo tempo em que Michael Jackson é aclamado por seu legado atemporal, o artista durante sua passagem terrestre foi constantemente questionado sobre suas integridades mentais, morais e pessoais. E estes, são enigmas que a ainda circundam seu nome mesmo após a transição para outro plano. Quais seriam os reais motivos de tamanha perseguição à Michael por parte de imprensa, família e sociedade?
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Em tempos de “Black Lives Matters”, é no mínimo leviano não levar estes questionamentos à luz do racismo velado mundialmente e principalmente na sociedade norte-americana. Mesmo passando seus últimos anos de carreira com o fenótipo de um homem branco, Michael Jackson era preto, afro americano, afrodescendente, e olha, a partir disso, seguramente surgem todos os problemas psicológicos e sociais enfrentados pelo ídolo.
Era de conhecimento público a aversão que Jackson tinha de sua própria aparência. Milhares de milhões de fãs e notas de dólares em sua conta bancária não eram o suficiente para resolver a questão de baixa autoestima que o rei do pop sofria. E de onde isso surgiu? Dentro de casa e também nas ruas. Nas poucas entrevistas televisionadas que Michael concedeu em vida, praticamente em todas elas, ele confirmou os abusos psicológicos e físicos que sofria de seu pai, Joseph Jackson.
Para a apresentadora Oprah Winfrey em 1993, ele disse com todas as letras sobre as humilhações que sofria do pai em relação à sua aparência, o tamanho do nariz, aspecto da pele com espinhas… E também sobre momentos no qual estes comentários foram proferidos por “fãs” nas ruas. Vamos lá, as características incômodas para o pai de Michael e outras pessoas, são traços de pessoas pretas. Não têm outra saída. Hoje, com todo este aumento de consciência o preconceito está aí em nossa cara, imaginem há mais de 50 anos atrás.
É demasiadamente insensível não fazer uma análise global sobre tudo isso. Um pai preto, com 5 filhos para criar, mal sucedido em seus sonhos artísticos e também vítima de racismo, impunha seus anseios e frustrações sobre seus filhos, os fazendo perder suas respectivas juventudes em incansáveis horas de ensaios e vida noturna de palco em palco. Quais referências de autoestima e amor próprio Michael teve? Se não posse por sua mãe Katherine, seriam nenhuma.
Some isso ao fato do menino ter nascido com um talento que provavelmente jamais será visto nada parecido de novo neste planeta e uma sociedade racista, que não aceita uma pessoa preta chegar ao patamar que ele atingiu, e temos a bomba perfeita para questionar tudo, absolutamente tudo sobre este indivíduo.
Aos 20 e poucos anos de idade, além de ser o artista com o álbum mais vendido da história da humanidade, “Thriller”, com mais de 350 milhões de cópias, Michael deu a cartada que o fez ser mais do que um popstar. E sim, ser um tremendo de um homem de negócios.
A fortuna que Michael criou, é praticamente inesgotável, algo que talvez dê para contar nos dedos de uma mão os artistas que tenham pensado e agido de forma parecida. O porquê disso? Em 1985, após gravar com Paul McCartney a canção “Say, say, say”, Michael soube que o catálogo de direitos das canções de McCartney e Jonh Lennon estavam disponíveis em leilão público.
Fortuna inacabável
O que “Maiquinho” fez? Comprou a coleção de 4.000 canções, incluindo 250 de Paul e John por US $ 47,5 milhões. O que isso quer dizer? Dinheiro eterno. Está pouco para você? Então vai lá: Michael era proprietário de 50% do catálogo da Sony/ATV, parte que foi vendida em 2016 por seus herdeiros Paris e Prince. O valor avaliado da venda? 750 milhões de dólares. E ainda foi negociada por baixo. Pois, estima-se que o valor do catálogo seja de 30 BILHÕES de dólares.
Assim, Michael era um dos homens mais ricos do mundo e incrivelmente com um coração puro, solidário, humanitário e preto. Bom, seria impossível passar por esta encarnação sem sofrer perseguição, não é mesmo?
Em diversas situações de caridade, Michael revelou ter sido vítima de racismo e sempre agiu de forma benevolente, nunca revidando. Na verdade, Michael revidava onde brilhava. Na música.
“They don’t care about us”, bom, o título já diz tudo. “Eu sou vítima da brutalidade policial agora, estou cansado de ser alvo do ódio. Você acaba com meu orgulho”, em meio à população baiana nos ladrilhos do Peulorinho e no meio do morro Dona Marta no Rio de Janeiro. Em “Black or White”, Michael destrói símbolos nazistas, esmurra um “KKK rules” e acaba com um “Niggers”.
Conclusão
Michael nunca foi superficial, na verdade, sempre passou muito longe disso. Apesar da imprensa massivamente abordar pautas sobre suas características físicas e traumas pessoais como prioridades. Certamente ele teria voz ativa nos dias de hoje, sabendo que a população preta ainda é o alvo desenfreado da brutalidade policial.
Para você entender que eles ainda não ligam pra gente, de acordo com o Maping Police Violence, no ano passado, a polícia norte-americana matou 1.098 pessoas, sendo 24% delas pessoas pretas. Porém, afro americanos são apenas 13% da população. Como se não bastasse, aqui no Brasil, de acordo com o Ministério Da Justiça E Segurança Pública a polícia daqui matou 6x mais que os EUA. 5.804 até o ano passado. Do total, 75%, ou 4.533 eram negros.