Coisa de disco de numero redondo, 25, espécie de bodas de prata do artista com a sua voz e suas melodias e letras gravadas, ‘D’ talvez proponha um jogo, seja um enigma: um estilo e um pensamento artístico a serem decifrados nas canções. O título-enigma nasceu das conversas entre Djavan e Giovanni Bianco, designer brasileiro de presença internacional (já trabalhou, por exemplo, com Madonna), diretor criativo e responsável pela capa e pela direção dos clipes do novo álbum.
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Produzido e arranjado por Djavan – com desenhos de sopros (explorando a abertura de ‘vozes’ e as muitas possibilidades de timbres dos instrumentos), utilização intensa da percussão e aproveitamento do estilo pessoal de cada músico da base, que atestam sua maturidade como arranjador –’D’ é antes de tudo uma impressionante safra de canções, todas com a marca do autor. Ou seja, melodias sinuosas, harmonias ricas e surpreendentes, passeio por diversos gêneros e ritmos, e sem qualquer perda do acento pop, pelo contrário. Há hits instantâneos como a própria ‘Num mundo de paz’, uma melodia irresistível sobre base de funk tradicional, as baladas ‘Primeira estrada’ ou ‘Quase fantasia’, a folk ‘Iluminado”. Como há, também, algumas canções das mais sofisticadas que Djavan fez na vida. Em canções novas, ‘D’ parece conter todas as vertentes da criação de ‘D’javan.
Seguindo seu método muito pessoal de compor, Djavan fez quase todas as músicas de ‘D’ no Rio de Janeiro, a partir de junho de 2021 e no decorrer do segundo semestre do ano passado. Gravou-as todas com músicos de várias fases de sua carreira, cada canção ‘pedindo’ o músico mais apropriado para ela. Em ‘Num mundo de paz’, por exemplo, na cozinha rítmica mistura a bateria técnica, perfeita, de Felipe Alves, da banda do disco anterior, ‘Vesúvio’, com o baixo mais criativo e suingado de Marcelo Mariano, que acompanhou Djavan há mais de 20 anos. Dessa mesma época, Djavan convocou o argentino-brasileiro Torcuato Mariano na guitarra, que faz a introdução e os solos. Além do fiel escudeiro Paulo Calasans no teclado – e assistente de Djavan na produção musical. Outros antigos companheiros de banda compõem o naipe de sopros presente em várias faixas, Marcelo Martins no saxofone, Jessé Sadoc no trompete e flugelhorn, que recebem o novato do grupo Rafael Rocha, no trombone. Tal rodízio de músicos se dá em cada canção, e não uma banda fixa, o baterista pode às vezes ser o ‘antigo’ Carlos Bala ao lado do baixista Arthur de Palla, da banda de ‘Vesúvio’. Esse rodízio, não deixa de fazer parte do enigma ‘D’, o segredo de seu som.
Com as músicas prontas, arranjadas e gravadas, Djavan foi em janeiro de 22 para sua casa de praia na Alagoas natal, onde nos dois meses seguintes todas as letras foram escritas, talvez daí venha a característica tão solar do álbum. Todas, na verdade à exceção de duas: o samba ‘Êh, Êh!’ e ‘Iluminado’, duas faixas que têm origens e características diferentes das outras dez do álbum, mas que contêm igualmente grande parte do enigma de ‘D’.
Na verdade, o 25º álbum de Djavan traz esse título ao mesmo tempo simples e enigmático porque talvez ‘D’ represente aqui a continuidade da obra de um artista, o desenvolvimento dos muitos caminhos musicais propostos por Djavan, e sua busca constante por novidades, desde que começou a ouvir música, menino ainda, em Maceió. Um enigma decifrado canção a canção, disco a disco. Agora, no momento em que o ouvimos pela primeira vez. E a ser ouvido e decifrado para sempre.
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