Rock

Di Ferrero lança primeiro álbum solo, ‘:( UMA BAD UMA FARRA :)’

Foto: Bruno Trindade

Mil ideias passaram pela cabeça de Diego José Ferrero após lançar o último álbum de inéditas do NX Zero, sete anos atrás. Quem sabe ir morar na Austrália? Quem sabe soltar um trabalho mais experimental, usando o nome do meio como uma espécie de alter ego? Alguns projetos foram adaptados (Austrália virou Floripa), outros foram engavetados (mas José um dia aparece!)… O que nunca mudou em Di foi seu desejo de criar. São inúmeros singles, EPs e duetos (com IZA, Thiaguinho, Vitão, Rashid, Rael, Luccas Carlos, etc) de 2018 para cá. Faltava só o álbum cheio. Não falta mais.

Concebido na capital catarinense, em parceria com o premiado time de produtores Los Brasileros em todas as etapas, “🙁 Uma Bad, Uma Farra :)” é o primeiro disco solo de Di Ferrero, já disponível em todas as plataformas de áudio, pelo selo slap, da Som Livre. Uma obra coesa, que passeia pelo pop alternativo e por várias vertentes do rock – reflexo natural de tudo que o músico de 36 anos vivenciou com o NX e mais ainda nesse prolífico período pós-banda, quando pôde diversificar sua linguagem sonora. O resultado é uma coleção de 12 canções nas quais ele faz as pazes com o passado, revela seus interesses no presente e indica que pavimentará um futuro brilhante.

Batizada de “TWITT3R” por ter nascido de versos que Di soltou no Twitter, gerando burburinho entre seus seguidores, a faixa de abertura começa a encadear referências que voltarão ao longo de “🙁 Uma Bad, Uma Farra :)”. Os mais novos pensarão imediatamente em The Weeknd e em artistas atuais que bebem nos anos 80; os mais velhos identificarão pitadas de Duran Duran, INXS e de outros originais de fábrica que nunca saem de moda, década após década (sendo o Red Hot Chili Peppers o caso mais emblemático e inspirador). “TWITT3R” conta com o primeiro solo de guitarra gravado por Di, que se divertiu tocando vários instrumentos nas sessões, sempre ao lado dos “brasileros” Dan Valbusa, Marcelo Ferraz e Pedro Dash.

AONDE É O CÉU” foi lançada em novembro de 2021 como primeiro single de “🙁 Uma Bad, Uma Farra :)” e não chamou atenção apenas por sua sonoridade mais rocker, mas também pela letra, que pintou após um papo entre amigos sobre cancelamentos e a dificuldade de se encontrar o padrão correto nos dias de hoje – ou “ser perfeito só para me encaixar”, como diz o refrão. Prossegue em “UM BRINDE”, com participação vocal de Badauí, do CPM 22. Os amigos, que dividiram palcos e até o empresário no auge do hardcore melódico nacional, celebram a vida e recordam que um mundo hostil não calou suas vozes. Mas seria errado dizer que essa é uma canção nostálgica. “Não somos os mesmos de ontem/ Melhor assim”, crava o convidado especial no encerramento da segunda estrofe.

Outra presença ilustre engrandece a solar “INTENSAMENTE”. Bombando nas rádios desde fevereiro, ela junta Di ao catarinense Vitor Kley mais uma vez – eles haviam gravado a Di Boa Sessions 3, em 2020. Essa dobradinha (que poderá ser conferida ao vivo no palco Sunset, do Rock in Rio, em 9 de setembro) era para ter acontecido na balada “SORTE”. Mas Vitor ouviu a demo de “INTENSAMENTE” e decretou: “é nessa que quero cantar!”. Difícil resistir à vibe alto astral do hit.

Já a faixa que dá nome ao álbum trata da “insana arte de recomeçar”, num groove que remete ao de “Bete Balanço”, do Barão Vermelho. Os versos de “UMA BAD UMA FARRA” – canção que chega com um vídeo performance no canal oficial do artista no YouTube, falam sobre a vida ser um ciclo que não para e guardam uma curiosidade a respeito de Di, que costumava compor somente quando estava numa bad. Recentemente, ele se ligou que criar em momentos de farra também pode gerar coisa boa. A leveza de seu disco de estreia vem muito dessa nova maneira de lidar com a arte. Tanto que é possível encontrar mensagens otimistas mesmo nas composições que mais criticam nossa atual realidade, vide “POLARIZADO” e “FAKE SONG”. Na primeira, Di lamenta as relações que se perderam com a polarização vigente. Na segunda, vomita em 55 segundos de puro HC à moda Pennywise várias inconformidades, porém bradando ao final que “podemos derrubar o muro”.

Esse pico de energia em “FAKE SONG” acaba valorizando “C A L M A”, um dos grandes destaques do repertório. Declaradamente inspirada nas melhorias que a esposa Isabeli Fontana trouxe para a vida do cantor, a letra cita os personagens Rachel e Ross, da série Friends, e John Lennon e Yoko Ono como casais raros, fadados a acontecer. Não por acaso, o álbum evolui para “DESCANSA”, música lançada em março, que exala libido e concretiza suas pretensões sexuais no refrão. A voz feminina é de Clarissa, fenômeno amplificado pelo TikTok, que contrasta seus esses acariocados com os de Di, mais paulistanos (apesar dele ser natural de Campo Grande, MS, e de ter rodado bastante depois disso).

O quarto final de “🙁 Uma Bad, Uma Farra 🙂” tem início com “AMANHÃ QUEM SABE”, cujo instrumental se beneficia de Junior Lima sentando a mão na batera. Na letra, há uma citação de “Evidências” (“Eu não nego as aparências/ Nem disfarço as evidências”) e Di até manda um alô para o tio de Junior (“salve, Chitão!”). Ela abre os caminhos para a já citada “SORTE”, que apesar de ser mais lentinha, não destoa do clima para cima de todo o material. Tales de Polli, do grupo de reggae Maneva, é coautor da faixa. “DILEMA” fecha os trabalhos com uma proposta muito parecida com a da coolzíssima “Sentença”, primeiro lançamento de Di pós-NX, lá em 2018. Com sua mensagem apaziguadora, “DILEMA” completa o arco desse capítulo inicial de trajetória pregando que sempre há tempo para resolver o que não foi resolvido. E o que foi resolvido é que, enfim, a essência de Di Ferrero está impressa num álbum solo. A maturação deu bom!

Sair da versão mobile