A cantora e compositora Chella lança o single “Cachos” nesta quinta-feira (6). Composta em parceria com Scott (Rafa Paredes) e Dico Sanches (Ângelo Colasanti), a letra aborda questões sobre autoestima, identidade e aceitação, a partir da experiência pessoal da artista, em um desabafo que traz à tona a luta interna para se aceitar como é, em um mundo de padrões impositivos.
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Construída como um diálogo interno entre o eu lírico e as vozes que a criticaram ao longo da vida, apresentadas como paráfrases, em tom irreverente e sarcástico, a canção traz uma sonoridade pop, com toques de blues, funk e free jazz dos anos 1950 e 1960.
Na entrevista a seguir, a artista fala ao PopNow sobre o processo de composição da música, escolhas estéticas, seu processo de transição capilar e autoaceitação e, de quebra, dá dicas de cuidados com os cachos e conselhos para quem está aprendendo a se amar.
Veja a entrevista na íntegra abaixo:
Apesar de sempre tocar em temas mais intensos, não é comum ouvir palavrões nas suas músicas. O quão revoltada você estava quando escreveu essa letra?
Acho que a palavra mais apropriada seria “cansada” ou “impaciente”… Eu estava conversando com meu amigo Rafa Paredes (coautor da faixa) sobre a minha história com os meus cachos, e acabamos entrando numa espiral de inconformação e questionamento. O Rafa sugeriu o “vai tomar no –” como uma brincadeira, achando que eu nunca aceitaria a ideia. Mas, assim que ouvi, pensei: “Poxa, mas é exatamente isso que eu gostaria de dizer pra quem me encheu o saco a vida inteira. Por que não falar logo de uma vez?” E o resto é história…
8E há uma boa razão para esse desabafo, sem dúvida. Inclusive, você parafraseou muitas coisas ruins que ouviu quando criança, como muitas meninas de cabelo crespo e cacheado. A música satiriza isso, mas também mostra o lado do empoderamento. Essas questões ainda te afetam ou já estão superadas?*
Todas as frases que parafraseei na música foram coisas que realmente ouvi de pessoas próximas ao longo da minha vida. Na época, isso mexeu muito comigo… a ponto de eu andar sempre de cabelo preso em rabo de cavalo, alisar constantemente e, depois, partir pra progressiva. Mas, quando decidi assumir meus cachos de volta e finalizei a transição capilar, essa insegurança desapareceu.
Acredito que essa mudança aconteceu muito mais por um trabalho interno de autoestima do que por uma mudança física. Claro que se olhar no espelho e se sentir bonita ajuda muito, mas, ao longo da transição (que durou dois longos anos), fui aprendendo a ter paciência, a olhar pra dentro, a enxergar minhas qualidades além da aparência, a acessar minha força… e, talvez o mais importante, a me reconhecer no meu próprio reflexo. No final desse processo, cheguei inteira, resiliente e com a autoestima completamente transformada.
Ao mesmo tempo, parece também uma espécie de desforra. Essa música não teria um quê de vingança contra todo mundo que já tentou te botar pra baixo?
Não vejo como vingança, mas sim como um desabafo — uma expressão na sua forma mais autêntica. Acho que, melhor do que se vingar (ou talvez a melhor vingança, rs), é fazer com que as pessoas reflitam sobre seus discursos e atitudes e percebam que precisam mudar.
E, já que estamos falando de cabelo, autocuidado e aceitação, qual o seu segredo para cuidar dos cachos?
Os produtos! Não acho que exista um produto milagroso, mas sim o melhor produto para o seu cabelo. Você precisa testar alguns e ver qual funciona melhor para o seu tipo de cacho.
O combo que mais salva os meus cachos é a mistura de creme modelador com gel e, depois, um óleo capilar nas pontas. Sempre estou testando novos produtos e formas de finalizar, e acabo me surpreendendo! Ah, e claro: hidratação semanalmente! Cabelos cacheados, no geral, são mais secos, então manter a hidratação em dia faz toda a diferença.
E que conselho você daria para as meninas que estão passando por isso e ainda estão aprendendo a se amar?
A palavra-chave é paciência! A transição capilar é um processo longo e difícil, especialmente quando você não tem uma boa rede de apoio — mas te garanto que vale muito a pena. Você será muito mais feliz com o seu cabelo, sua identidade, sua autoestima…
Se fosse dar dicas práticas, eu diria: teste penteados e acessórios diferentes, e evite escovar o cabelo para deixá-lo liso ao máximo! Só em eventos muito pontuais, se for algo que realmente faz questão. Fora isso, aposte nos penteados! Use e abuse de tiaras, presilhas, chapéus… Tudo isso ajuda muito a passar por essa fase sem sofrer tanto.
Além da sonoridade da música, a letra cita ídolos dos anos 60 e 70 como Caetano, Roberto e Bethânia. Como surgiu a ideia de trazer essa estética, algo entre a música brasileira e norte-americana dos anos 1950 a 1970, para abordar esse tema?
Aconteceu de forma muito natural enquanto estávamos compondo! É aquele tipo de coisa em que as referências vão se encaixando sem que a gente planeje. Quando fomos gravar, senti que a música pedia essa sonoridade mais retrô, com toques de funk americano, blues e jazz…
E quando a faixa ficou pronta, achei que seria interessante trazer essa estética também para a parte visual. Eu gostei da ideia de contrastar a imagem da mulher “tradicional” dos anos 60 com o conteúdo rebelde e transgressor da letra. Esse choque cria um estranhamento que faz tudo ficar ainda mais interessante.
Qual foi a premissa básica para fazer o visualizer e como ele dialoga com a faixa?
O objetivo da parte visual era justamente causar esse estranhamento, brincar com a ironia — um contraste entre a revolta que está na letra e a mulher “comportada” e sorridente que aparece no vídeo. Como se a música fosse o alter ego dessa personagem, expressando tudo aquilo que ela não pode dizer.
Hora do desabafo: que recado você mandaria pras pessoas que ainda têm preconceito contra os cabelos crespos e cacheados?
Ia sugerir que saíssem de casa e fossem tocar a grama um pouquinho.
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