Rap/Hip Hop

Cassie chora em depoimento e relata abusos físicos e psicológicos cometidos por Diddy

Diddy. Foto: Reprodução / X @diddy

Na manhã de terça-feira (13), visivelmente abalada, Cassie Ventura deu um depoimento comovente sobre os abusos físicos e psicológicos que teria sofrido durante seu relacionamento de mais de uma década com Sean “Diddy” Combs.

Grávida e usando uma blusa de manga longa, Cassie falou de forma tranquila, mas emocionada. Em alguns momentos, colocou as mãos sobre a barriga e respirou fundo para se recompor. Chegou a interromper o depoimento para pedir desculpas antes de continuar: “Desculpa”.

Esse é o primeiro encontro entre ela e Diddy desde 2018, quando os dois estiveram juntos no funeral de Kim Porter, ex do rapper. Agora, estão frente a frente em um tribunal de Manhattan, onde o depoimento de Cassie deve se estender por vários dias.

Cassie começou contando como conheceu Diddy. Ela tinha 19 anos, era modelo e cantora iniciante em Nova York, e ele, aos 38, ofereceu um contrato para dez álbuns com a Bad Boy Records, apesar de ela ter lançado apenas um. Ela disse que, na época, era inocente e se sentia atraída pelo carisma e pela influência do rapper: “Ele era divertido, encantador, parecia maior que a vida. E tinha minha carreira nas mãos”.

A relação evoluiu rápido. Aos 21 anos, durante uma comemoração em Las Vegas, ele a beijou pela primeira vez, o que a deixou confusa, mas ainda assim animada com a aproximação. O envolvimento logo virou sexual, e Cassie contou que era inexperiente e mal sabia lidar com o que estava acontecendo. Aos 22, ela foi apresentada por Diddy a experiências que ele chamava de “freak-offs”, encontros sexuais com outros homens, regados a drogas e que duravam dias, enquanto o rapper assistia e se masturbava.

Cassie disse que, no início, se sentia desconfortável, mas fazia porque queria agradá-lo. Com o tempo, esses encontros passaram a acontecer quase toda semana. Ela era responsável por organizar tudo: desde escolher os acompanhantes até reservar quartos de hotel e preparar o ambiente. Recebia drogas para conseguir “dar conta” de horas seguidas de atividade sexual, e depois precisava de dias para se recuperar do desgaste físico e emocional. “Virou um trabalho. Minha vida era isso: fazer, sobreviver e tentar voltar ao normal”, disse ela.

Mesmo sem querer, Cassie contou que não se sentia em posição de dizer “não”, por medo das consequências. Combs gravava tudo e ela temia ser exposta. Em alguns casos, ele revia os vídeos enquanto fazia sexo com ela. A cantora ainda detalhou que, além dos abusos sexuais, também sofreu violência física constante. “Ele me batia, me chutava, me arrastava pelo chão. Às vezes pisava na minha cabeça quando eu já estava caída”, relatou.

Apesar da agressividade, Cassie disse que ainda havia sentimentos envolvidos: “Ainda tinha amor ali”. Porém, o controle de Diddy sobre sua vida era total, desde suas roupas, até as oportunidades de trabalho. Ele controlava quem ela via, o que fazia e até onde morava. Mesmo quando moravam separados, ele tinha cópias das chaves e aparecia sem avisar.

Durante o depoimento, Cassie também foi questionada sobre os detalhes logísticos dos “freak-offs”: onde ocorriam, quem participava, quais substâncias usavam. Disse que costumava usar o nome falso “Jackie Star” para fazer as reservas e que Diddy usava os pseudônimos “Frank Black” ou “Frank White”. Alguns dos acompanhantes eram encontrados em sites como Craigslist e Backpage. Um deles era conhecido apenas como “The Punisher”.

Ela contou que os encontros usavam litros de óleo de bebê e lubrificantes, e que era comum que os envolvidos ficassem cobertos de óleo, cera quente e até urina. Cassie afirmou que era obrigada a participar mesmo menstruada, e descreveu momentos humilhantes: “Ele urinava em mim, ou mandava que o acompanhante fizesse isso. Era nojento, degradante. Mas ele gostava, então acontecia”.

Segundo Cassie, esses eventos seguiam um roteiro. Começavam com ela e o acompanhante se acariciando, passavam por sexo oral e, depois, relação sexual, tudo sob comando de Diddy, que às vezes também participava. Ao final, pedia que o acompanhante ejaculasse sobre Cassie e que ela espalhasse o sêmen no peito e nos mamilos dele.

Ela afirmou que só conseguia participar dessas situações sob efeito de drogas — ecstasy, maconha, cetamina, cogumelos e outras — pois era a única forma de “desligar da realidade” e suportar o que acontecia.

Cassie ainda será interrogada pelos advogados de Diddy. Outros dois testemunhos já foram ouvidos: o de um segurança que presenciou uma agressão em 2016, e o de um acompanhante que disse ter sido contratado várias vezes para fazer sexo com Cassie enquanto Diddy assistia. Esse último afirmou que o rapper chegou a tirar uma foto do seu documento como forma de ameaça.

Diddy, que já foi um dos nomes mais poderosos da música e da moda, agora enfrenta acusações sérias de tráfico sexual e associação criminosa. Se condenado, pode pegar prisão perpétua.

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