Um artista que é muitos em um só. A diversidade de seus antepassados, as misturas de seu entorno e a infância com poucos recursos estimularam em Carlinhos Brown uma inquietude. Apesar de ser alfabetizado em torno dos 14 anos, Brown nunca negligenciou a força das palavras. Suas inúmeras composições já passaram pelas vozes de cantores consagrados como Marisa Monte e Caetano Veloso, além de receber uma indicação ao Oscar pela trilha sonora do filme “Rio”.
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As histórias e memórias de Carlinhos Brown estão retratadas em “Meia-lua inteira”, biografia resultado de mais de trinta horas de gravação de conversas, centenas de mensagens e quase cinquenta entrevistas de amigos e familiares. A obra, que conta também com um encarte de fotos marcantes da trajetória artística de Brown, é assinada por Julius Wiedemann, tem produção executiva de Andrea Mota e sairá pela editora Record.
Nascido e crescido em Candeal, bairro periférico de Salvador, Antônio Carlos Santos de Freitas foi uma criança curiosa. Nos baldes e encontros musicais de vizinhos se apaixonou por sonoridades que o fizeram aprender música longe das tradicionais escolas e professores. Brown é um otimista nato. As dificuldades do início da vida são lembradas com afeto. Os relatos dos empregos distantes da música, a fome e as experiências de dormir na rua não têm a carga dramática que lhes é natural, mas são expostos com uma inacreditável leveza.
O Candeal cresce junto com Carlinhos Brown. Conforme a fama, dinheiro e notoriedade chegam, Brown enche o bairro de cultura e educação. Os projetos Candeal Guetho Square (casa dos ensaios do Timbalada) e Pracatum (centro educacional) viraram referências da capital baiana antes marcado pela pobreza.
A espiritualidade é inseparável da trajetória e do trabalho do artista. Ele busca no Candomblé a conexão com os ancestrais e divindades tão relevantes em sua vida e música. Apesar da resistência do avô materno, o jovem do Candeal mergulhou na cultura e religião afro. O Iorubá está nas letras de Carlinhos e na sua forma de se comunicar com o mundo. É dos terreiros que o músico tira inspiração para seus batuques. Em homenagem aos orixás e com a permissão deles, é que faz suas canções.
Dos bares de Salvador à cadeira no The Voice, o percurso foi longo. O início da carreira teve suas lutas e glórias, mas mesmo as lembranças mais absurdas ganham um tom cômico. Quem vê os shows lotados do artista não imagina que seu início como cantor envolveu histórias com confusão e até ameaça de morte. Brown viveu aprendizados musicais tocando com Djavan, compondo para Caetano e para muitos outros nomes da música brasileira.
“Meia-lua inteira”, a biografia de Carlinhos Brown, chega para celebrar uma fase marcante para o artista. Com 60 anos de idade, sendo 40 de carreira, Brown lançou em fevereiro de 2023, em pleno Carnaval, seu mais recente álbum, Pop Xirê. O trabalho afirma a força do Axé Music e traz miscigenação de linguagens e composições em iorubá, português e espanhol. O álbum foi o segundo projeto de uma trilogia de lançamentos em comemoração às suas seis décadas de vida. Em novembro de 2022, Brown lançou “Carlinhos Brown é Mar Revolto”, dedicado ao rock baiano, ao lado do Mar Revolto, grupo ao qual o artista integrou no final dos anos 70 e início dos anos 80. Ainda em 2023, pretende lançar um trabalho apenas com músicas instrumentais.
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