No sítio de seus avós, lugar fundamental para sua infância e adolescência, ZOO tinha a atenção dividida entre dois universos. O primeiro eram os animais, a observação das particularidades do comportamento de cada um — e de como se podia traçar paralelos entre eles e os diferentes humores do ser humano. O segundo universo era o aparelho de DVD, um dos poucos eletrônicos da casa. Mais especificamente, os shows de artistas como Britney Spears e Christina Aguilera, aos quais ela assistia avidamente, decorando falas e coreografias.
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“efeito borboleta”, seu álbum de estreia que sai pela Universal Music, conjuga esses dois mundos que moldaram sua formação. De um lado, a metáfora dos animais para tratar de emoções — cada faixa é associada a um deles, da lagarta ao cisne, passando pelo coelho e pelo crocodilo. De outro, o artesanato pop que aprendeu nos DVDs, a amarração conceitual sem arestas.
— Pra mim, pop é conceito. Tudo tem que ter um porquê — afirma a cantora.
O formato de lançamento de “efeito borboleta” reforça as palavras de ZOO. Cada uma de suas músicas ganhou um clipe, que se juntam num álbum visual, com direção de ZOO e Gabriel Caviness. Os vídeos serão lançados sequencialmente e, apesar de cada um ter linguagem e identidade própria, eles formam uma unidade encadeada — o início do clipe remete ao fim do anterior e assim sucessivamente, numa grande narrativa.
O CAMINHO ATÉ AQUI
Entre o sítio dos avós e “efeito borboleta” houve uma caminhada. Aos 14 anos, quando já escrevia suas primeiras letras de música, ZOO ganhou um violão do pai. Pouco depois, começou a compor.
De Florianópolis, onde nasceu, ela acompanhava o cenário de pop/rock internacional e o movimento de São Paulo. Depois, numa temporada em Salvador, pôde conhecer a cena independente local. Mas sua carreira musical teria início na China, para onde foi em 2014 para um trabalho como modelo. Lá, apareceu a chance de cantar num club.
— Fazia quatro, cinco músicas por noite. E assim descobri que precisava viver disso, era o que me fazia feliz — conta ZOO.
De volta ao Brasil, começou a compor e a gravar coisas esparsas, com amigos. Lançou alguns singles, até que soube, por acaso, numa festa na qual encontrou os DJs da dupla Jetlag Music, que eles haviam tocado uma de suas músicas na edição carioca do festival de música eletrônica EDC, e que tinha sido um sucesso.
Pouco depois, iniciou-se a parceria entre ZOO e Jetlag, com ela fazendo participações em apresentações deles. Juntos, eles passaram por palcos como Rock in Rio, Lollapalooza, Maracanã e Villa Mix Goiânia, cantando para dezenas de milhares de pessoas.
Finda a parceria com o Jetlag, ZOO começa a pensar sua música num caminho mais voltado para o pop e o R&B, em vez da eletrônica. Em paralelo, investiu no caminho de influencer, com números de respeito: quase cinco milhões de seguidores no Instagram, mais de 1 milhão de inscritos no canal do YouTube e quatro milhões no TikTok. Na pandemia, porém, percebeu que queria se dedicar mais à música.
‘EFEITO BORBOLETA’
Em “efeito borboleta”, ZOO conta, de alguma maneira, essa história — com a ajuda dos produtores Pablo Bispo e Ruxell. A vinheta instrumental “metamorfose” abre o disco de forma surpreendente quando se espera um choque enérgico pop. Ela instaura uma atmosfera lúdica e tranquila, ingênua até (“Parece música da Disney”, brinca). O animal associado a ela é a lagarta, que guarda em si a potência da transformação.
A faixa-título, na sequência, cujo animal associado é a própria borboleta, já tem outra pegada, mais assertiva em seus graves e em seu refrão forte, repetido em loop: “Não há quem esqueça/ O meu efeito borboleta/ Que não sai da sua cabeça/ Que não sai”. A letra fala de transformação e do desejo pela transformação.
“nada a perder” canta a liberdade na voz de uma mulher que termina um relacionamento tóxico. O animal que a representa é um pássaro. Com a liberdade posta, abre-se espaço para “pegar você”, definida por ZOO como “música de pegação”, de versos como “Não tô falando de amor/ Tô falando de prazer”. Seu animal é um crocodilo.
Em “pantera” (representada pelo animal do título e lançada em janeiro), ZOO quis trazer a referência do zouk, ritmo que ama. Na letra, apropria-se do histórico meme do “tapa na pantera”, numa conotação de sedução, mas sem abrir mão do contexto original.
“me ama ou me ama” documenta o fogo da paixão, o desejo de estar o tempo todo junto. Seu animal é o insaciável coelho.
— É o ápice daquele momento da paixão, quando conheci o Chris. Por isso, chamei ele pra contracenar comigo no clipe — conta ZOO.
O interlúdio “respirar” baixa a temperatura e funciona no disco exatamente como uma retomada de fôlego. A baleia é o animal associado à faixa.
Depois do fôlego retomado, vem “dama da noite”, que flerta com o trap e é a mais dançante e pesada (em termos de ritmo) do disco. Seu animal é o morcego. ZOO a define como “uma música de empoderamento“.
— A gente pode e deve ser a dona da nossa vida. Por isso usei a imagem dessa flor que desabrocha à noite, de cheiro delicioso — explica ZOO, que menciona sua trajetória de influencer na letra: — Eu canto: “Porque o sucesso não é feito só de glória/ Influência sempre fez parte da minha história”.
A romântica “fórmula secreta” registra outro momento de sua relação com Chris: o amor assentado, a cumplicidade do casamento. O cisne, por sua imagem de pureza, a representa.
O disco se encerra com a leveza bem-humorada de “flor da pele”. A letra brinca com metáforas de duplo sentido: “Esse beijo que cê tem/ Sabor de natureza/ Realça a tua beleza/ Aguça meus sentidos/ Me leva longe/ Faz viajar/ Me puxa, aperta e acende”. O arranjo acompanha o clima, com seu acento reggae, os efeitos que alteram a textura das vozes, a participação da cantora Grag Queen. Seu animal é a simpática joaninha.
Em junho, o álbum ganha uma versão deluxe, com mais três faixas e três clipes que dão o laço final no pacote de “efeito borboleta”. Até porque, para ZOO, pop é, fundamentalmente, conceito.
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